domingo, 1 de fevereiro de 2009

Talvezes

O Cara

*

Talvez não tenho ido para me redimir.
(Talvez tenha ido para te condenar)

Talvez tenha ido para te redimir.
(Talvez tenha ido para me condenar)
Talvez tenha ido para me redimir.
(Talvez não tenha ido para te condenar)
Talvez tenha ido para me condenar.
(Talvez tenha ido para te condenar)
Talvez tenha ido para me redimir.
(Talvez tenha ido para te redimir)
Sei que (eu) fui porque precisava ir,
para que não seguisse "indo",
para que não seguisse pensando como seria

se tivesse ido
e para te redimir.
Sei que fui porque você precisava que que eu fosse,
para que não seguisse voltando,
para que não seguisse pensando como seria

se tivesse voltado,
e para que me redimisse.
Os desdobramentos disso tem a ver com o realmente somos.
É estranho que sejamos estranhos.
Nunca fui um anjo.
Mas também não sou um demônio.
Se não me concede o perdão, tem mais a ver consigo do que comigo?
Se não me concede o perdão, é porque não nos redimimos afinal?
Se não me concede o perdão, é porque ficamos no mesmo ponto?
Se não me concede o perdão, é porque ainda não é capaz disso?
Mas não creio mais em questões deixadas ao sol para que desidratem
e possam ser guardadas em potes como tomates secos,
passíveis de reidratação,
dolorosamente temperáveis,
dolorosamente saborosas.
Senti na pele a nostalgia do meu feito.
Senti na pele a importancia do meu feito.
Senti na carne, nos ossos, na alma.
Senti no peso dos anos.
Senti na respiração suspensa.
Senti em todos os meus esforços anteriores.
Senti do estado precário da sua casa.
Senti na atração do rio.
Senti! Senti! Senti!
E te senti um tanto perdido também.
Como posso passar diante dessa cena e dizer-te "apenas":
"Ah, quão bonito foi!"
ou
"Ah, como vai o seu dia hoje?"
ou
"Ah, como está cálido o tempo."
Essa não sou eu. Essa não sou mais eu. Essa nunca fui, embora tenha tentado.
E essa eu não quero ser.
Não quero mais esconder o sol,
nem com a sua sombra,
nem com a minha,
nem com a de ninguém.
Não vou mentir que a partir de hoje minha vida mudou.
Não mudou.
Não vou mentir quanto à origem dos meus sentimentos,
quanto à violência das minhas impressões
(a imagem no espelho pode ser muito feia!)
Mas não perdi a guerra!!! E vou ganhá-la.
E não é você o meu inimigo (caramba!)
Quisera fosse um amigo.
Ah! E não tenho medo de lágrimas.
Vão lavando as escadas para a passagem do que está por nascer.

*

Anete Antunes

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