sábado, 25 de outubro de 2008

Encontro de Palavras

Ontem sonhei com a palavra amor
E acordei pensando em computador
Telefonei para a palavra orgulho
E recebi um sinal mudo
Sai de casa com a palavra raiva
E dei de cara com uma antiga namorada

Conversamos com a palavra lembrança
Como se fossemos duas crianças
Almoçamos com a palavra saudade
Contando histórias de nossa mocidade
Me despedi da palavra desejo
Com um "tchau", um abraço e um beijo

Peguei o novo número de telefone
Do termo não me decepcione
E logo passei a me encontrar
Com o termo se reencontrar
Mas no nosso encontro seguinte
Encontrei a palavra rinite

Esperei qualquer palavra saudável
Até que ela me ligou, quando estava estável
E então marcamos de sair
Prum canto que precisa se bem-vestir
Sendo que disso eu não sabia
E fui para lá de chinelo, bermuda e agonia

Rindo, procuramos um outro canto
Um que tenha as palavras simples e encanto
Achamos numa esquina do Benfica
Um barzim de palavras paz e calmaria
Fomos atendidos por um garçon simpático
De palavras careca, alegre e extremamente pálido

Sei que agora estou muito feliz
Com a palavra... como é mesmo que se diz?
Não tou conseguindo identificar
Vou atrás da palavra pesquisar,
Começando pelo computador...
Lembrei! Acordei com a palavra amor!

C. A. Ribeiro Neto



* Pois bem, se me convidaram, eu aceito o convite!
www.caribeironeto.blogspot.com

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Boca Boa de Beijar

Levanta tua saia
dentro, sua laia
é de uma tralha
sou o que trabalha

Já no fim do dia
à tarde, poesia
clarifica e é sadia
como sua companhia

Outro beijo roubado
da sua boca muito boa
desse seu jeito enjoado

soletro no céu classudo
da tua boca, um beijo sexuado
que sobe e deixa-me mudo.

PETRO.

Fortaleza, 29/09/08

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Loira-burra


Alimenta-se de pequenas fatias prateadas e recheios ondulados e brilhantes, reflexivas. Engorda com dietéticas maldades. Rondou, com seus olhinhos semicerrados, o que circunvizinhava, e notou novidade inquilinando seu bairro. Desceu do carro uma garota, recatada, misteriosa, sentiu medo. Além da trigal cabeleira cascateando em laminas o par de olhos verdes, a boca miscigenada, carnuda e mulata, um tom ocre enviava sinais de sol e sal. Olhos de boa alma, gênio calmo. Morena logo convocou os habitantes para travar estratégias e tratou de encenar, cinicamente, sorrisos e rebolados. Perfilou Jonas, Marquinhos e Duda exigindo posturas e juras de amor em público. Beijos na boca, irrefutáveis. Pronto, essa loirinha metida a besta já deve saber quem manda por aqui. Ai dela se ousar se meter comigo. As amigas bajulavam e diziam-lhe que não haveria ninguém mais linda que ela e, aos poucos, sua ira foi dando lugar à gargalhada escandalosa, assustadora. Recepcionaram a menina em uníssono: loira-burra, loira-burra, loira-burra. A morena nunca perdia o rebolado, ao contrário, dominava-o excelentemente, acentuava-o quando rivais ou pretendentes por perto. Ainda que não pretendessem de fato, mero detalhe, todos a desejavam. Inclusive o Tio Alberto, solteirão convicto, irmão de sua mãe, quando lhe visitava, a seduzia. Tio olha os meus peitinhos, pega na minha bundinha, já sei beijar de língua, quer? Este bem que avisou a mana da formação da pequena. Não lhe deu ouvidos. Isso é coisa da sua cabeça, imagina, criança não tem maldade. Agora, evitava visitar-lhe. Cumpria o estritamente necessário, natal, aniversários, etc. Loira-burra, barrada ao convívio, entretinha-se com livros. (Aluísio Martins)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

????

Perguntas sem respostas

Cadê você?
De todo mundo
Em todo o mundo
Atrás da porta
Em toda porta
Por toda parte
Em toda arte
Sob a luz
Debaixo das sombras
Embaixo da unha
Os restos da noite
Dentro da boca
As sobras da vida
Que não tem mais vida
Por quê você?

MASA 19/5/8

PALHAS DO COQUEIRO

SUOR
QUE ESCORRE
FAZENDO CARINHO
QUE PERCORRE
ALHEIOS CAMINHOS
NO GOZO
NO FOGO
DE MANSINHO...

MASA.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Reu do Rio

Assumi que sou um navegante dos ribeiriços em acodir a si
riscos e desatinos; a primeiriços de que torna-me no que vi.
Suspenso por entre um matagal alto, esqueço do que falo e salto para
triste olhar dispenso.
Ao que perdi meu fio da visão, vejo o que vi ao longe, numa enevoada
casa de monge atravessar os que dito um pedi.
à outra margem, soçobrando peixes, desses que deixes por ti levarem
livre na estiagem.
Oi para o que passa, com o rio embassa, eriça e sente formigar da
divisa que chega ao encontrar com o oceano quente.
Tudo o que vejo é escaldar a verdadeira chegada do alvorecer na certa
esteira parecer, aeon e pincel e ensejo.
Para o rio atravessar, conta-se quantas são as tantas mãos as quais
remam e se despedem mais que se perdem no desaguão.
E, tudo isso é infinito, Deus que os pôs à nossa vista, cousa antiga
e tão bonito.
Tudo, então que é, se é para o rio, uma mulher -- a chamo ré. Mas como
sou homem, meu abdome é só o cio para parir um rio do que ter fé.
Sou réu do rio, e não tardio a descobrir o que ele é.

Petro

Fortaleza, 11/09/08