terça-feira, 22 de setembro de 2009

Afeganistão

Você chama e ele vem - feliz - como um cãozinho que reconhece um dono em potencial.
O coração decodifica seus símbolos e sinais.
A senha está correta, e ele entra.
Sentidos encrespam como uma vaga de ressaca contra a murada da avenida -Tudo se alaga.
Antes – a calmaria que antecede os grandes fenômenos da natureza: Como um lapso no respirar, o silêncio majestoso das grandes cadeias.
Contra as reiteradas investidas de nossos desejos terroristas, só encontramos abrigo nas solitárias cavernas do Afeganistão.
Mas isso também não dura. E saímos em busca de alimento.
Esse que sustenta a complexa estrutura de nossos anseios mais secretos, nossas esperanças, por vezes vãs.
Ao revê-lo, dá-se um colapso no sistema.
Ebulições de euforia, explosões de alegria, prostrações de tristeza.
A máquina reage, soa um alarme estridente.
Tempo apenas de abrigar-se do bombardeio de sensações confusas nas trincheiras abertas da alma.
Então, nosso coração é uma granada e o caminho a seguir está cheio de minas antigas, esquecidas desde a última guerra.
*
Anete Antunes

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

ouço minha fome

ouço minha fome devorando poemas...
de bourbon ou vinho barato, me veio o hálito de olhos marcados, bordados e expressos... que me roubam palavras como se a mim possuísse - palavras e corpo... me jogo no mundo do fundo profundo dos olhos marcados, atravessados, difusos e me confundo, mas eu que nunca fui santa, me permito ser infinita no corpo, me aprendendo em piercings e desatando nós na garganta.
afino a poesia das ruas como um bicho de cinco cabeças que evita pronomes de apego e posse e na falta de versos, apelo para acessos de tosse, tosse, tosse...
isso é tudo o que tenho e esse tudo me chega sem nome... e o que são as coisas antes de ter nome?
me embriagava de beijos, de vinho e versos sem rolha... baudelaires às avessas na busca da virtude que nos escolha e na encolha, os melhores desejos são aqueles dedicados nus e em carne viva, nossa carne crua que suspira...
sem resistência e entre palavras chulas no chão da sala, mordo a morte pra que alguém se sinta vivo ...
vivo agora voyeur imaginária de beijos que não são meus, chupo versos e estanco gemidos voltando pra casa lambendo giletes, sugando o vermelho do mel da minha língua dolorida, que não sei sugaram de mim enquanto eu ardia, ou se realmente nunca a ninguém pertenceu algum outro dia, numa outra vida.
mastigo a língua que lamberam palavras mal ditas, lançadas nas labaredas dançarinas de verdades benditas.
por isso eu peço que parta e que reparta e em outro desejo, espero que te escolha uma estrela boiante no céu e que nela te reflita a tua merecida musa, que te surja de onde vier, das ruas, dos becos, da memória ou das espumas...
e se numa nova cena, eu soltar o meu corpo e alguém pressentir, que nada foi viver perdido, ou também, que tudo que nunca fizemos tenha feito sentido, apenas iremos saber, do grito ecoante da morte mordida e do gosto do desgosto que guardava nas visceras, quando qualquer forma de pressentimento anunciava a partida.
(...) engulo meu silêncio.
e ainda ouço minha fome.

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(sheyladecastilhoº

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Quando à noite, em
inúmeros vapores, salta
à alma a dor;

Esse meu leigo penar
sobre o que ainda não
vivenciei,

Este, que vem me avisar
que não me distanciei

Do choro que salta ao
olhar, duro de se
sentir, mas franco em
admitir ser meu e de
mais ninguém

Esse sentimento contém
tudo o que experimentei,

e nele fica guardado
o futuro esplêndido
em esperança, algo
que diz que nem criança
diz um pouco de sonho
morador de minha Alma
e colhedor, e é tam-
bém, sempre foi e
será, o agradecimento
ao que mo traz essa
dor que também é
noite e escuridão preta
mas que brilha qual
o luar, leva-me lon-
ge o pensar e tudo
ao redor cria vida.
É que tudo não passa
da experiência artística.

Petro.