Senhor José Cardoso Sobrinho, vulgarmente chamado de Dom José. Quisera fosse o senhor um Don Juan, conhecedor e admirador inconteste da mulher e da beleza feminina. Decerto que o senhor não passa de um homem vestido de poderes e vaidades e, por isso, fiz questão de deixá-lo mais leve, sem o peso dos encargos “divinos” de julgar a humanidade. Nós, sociedade, poderiamos também excomungá-lo. Sim, temos esse poder, pois já foi o tempo em que o pensamento dogmatizado reinava absoluto nessa terra, muitas vezes, esquecida até por Deus.
Contudo, não vou agir tal e qual o senhor fez com a mãe da menina de 9 (nove) anos e com os médicos que cumpriram com a lei, nossa lei e, certemente que é a lei de Deus também, pois somos sua imagem e semelhança, em estado constante de evolução. Hoje, as igrejas começam a reconhecer a importância do trabalho de Darwin, também rejeitado pela sua Igreja. Não a minha. São muitas as moradas...
O pedófilo que abusava da tal menina, desde os 6 (seis) anos de idade, não foi criticado pelo senhor, tampouco expulso do seu “paraíso” torto.
Não vou agir como senhor porque sou um homem que, mesmo em casos extremos como o seu, respeita a diversidade, o direito à opiniões diversas. Porém, não me calo. Também me sinto legítimo representante de Deus para me pronunciar, livremente, graças, não ao senhor. Não vou condená-lo, não me compete isso, nem mesmo desejo ser juiz de nada. Sou um cidadão que transita pelo mundo e bem conhece dos caminhos e descaminhos da vida.
Quero apenas dizer que a vida daqueles que o senhor condenou em nada vai mudar. Continuarão a amparar e cuidar da saúde de seus filhos, toda a sociedade. Falo de uma Saúde maior, a saúde que compreende o direito de uma menina a permanecer menina, como é, e não seria mais, caso tivesse continuado a sua gravidez. Talvez que até morresse, não tinha um corpo desenvolvido o bastante para ser mãe, ainda não.
Espero, sinceramente, que, um dia, essa menina, quando mulher, se dê esse direito de ser amada e de dar à luz à um filho ou filha. Não tenho idéia do tamanho do trauma que um ato desses possar causar em um ser humano.
Pergunto-me como alguém poderá voltar a confiar nos homens quando o “pai” (que significa padre), que devia protegê-la e ama-la, era o seu torturador, capaz de destruir a vida da própria filha. Também me pergunto como acreditar em um padre (que significa pai), que se diz mais conhecedor e mais próximo do Pai-Padre maior e universal, que excomunga pessoas que salvam vidas, salvaguardando a infãncia de nossos filhos.
Outras igrejas, muitas delas interessadas apenas em usurpar seus fiéis, acolhem todo ser humano: assassinos, ladrões, prostitutas, etc. Será que elas, as outras igrejas, entendem que todos temos o direito de nos regenerarmos, de aprender com os nossos erros e optarmos por um novo caminho, mais correto e equilibrado?
Sou batizado, catolico-apostólico-romano. Se o senhor conhecesse meus pecados, certamente também me condenaria, a começar pelo pecado de falar o que quero, melhor, o que penso. Tenho filhas. Uma delas tem cinco anos e quero deixar muito claro que faria exatamente a mesma coisa com minha menina, caso um terror desses viesse acometê-la - providenciaria a interrupção da gravidez, por que não dizer, o aborto. Penso que, desse modo, já estou, previamente, excomungado. E digo mais, faria isso, mesmo que fosse contra todas as leis. Nesse caso, estaria condenado sob todas as instâncias.
Pouco me importa, minha filha importa muito mais. Esse é um pecado do qual eu nunca me arrependeria. Serei queimado nos infernos? Que se assim seja. Ou seja, seja o que Deus quiser. Mas o que Ele quer? Não sei responder a esta pergunta. O senhor tem certeza que sabe?
Enquanto não chega o dia do juizo final, façamos um pacto: vamos nos esforçar para fazer desse mundo um mundo melhor de se viver. Vamos oferecer o perdão antecipado, dado que somos todos falhos, e promover mais paz a esse lugar, concomitantemente, lindo e baldio. E, sendo assim, não o julgarei, cada cabeça é uma senteça, mas nem por isso devemos perder a cabeça e sair execrando as pessoas do alto de nossa estupidez, como se fossemos Deuses, sendo, em verdade, apenas humanos, demasiado humanos. Amém.
Aluísio Martins