domingo, 29 de março de 2009

"Porque a partir do momento em que chamamos, tornamo-nos, somos já semelhantes.
A quem? A que? Àquilo de que nada sabemos.
E é tornando-nos uma pessoa semelhante que deixamos o deserto, a sociedade.
Escrever é ser ninguém. Estar morto, dizia Thomas Mann.
Quando escrevemos, quando chamamos, somos já semelhantes.
Tentemos.
Tentemos quando estamos a sós no nosso quarto, livres, sem qualquer controle do exterior, chamar ou responder por cima do abismo.
Misturar-nos à vertigem, à maré imensa dos apelos.
Essa primeira palavra, esse primeiro grito, não sabemos grita-lo.
É a mesma coisa que chamar por Deus. É impossível.
E faz-se.
MARGUERITE DURAS

sábado, 28 de março de 2009

poeta quem?

arte: tina imel


já fui insana quando insone e buscava em paraísos artificiais,

a calma falsa e lenta que me secava a boca e pesava pálpebras, que de lágrimas e gozo amanheciam grudentas.

e controversa quando insone, eu buscava na suposta insanidade o efeito fulgaz e quem sabe fatal, dos artifícios que pra mim eram naturais.

eu já chorei na frente do espelho, estourando vasos nos olhos vermelhos

e já fui uma escrava sedenta de voláteis prazeres grotescos...

já fui semente, demente, já fui doente e quem não foi?

e fui curada, amaldiçoada e já fui amada por quem ficou e por quem se foi.

e também fui amante de vorazes defeitos, que pra mim no instante pareciam perfeitos

de quem não prezava em nenhum momento, o meu menor contentamento.

eu prezo tanto meus arrependimentos , quanto meus desprendimentos...

eu já pequei em nome do encantamento e me desesperei em silêncio em sepultamentos.

já fui um dia também, raiz encrustada na rocha e espuma cor de rosa lançada ao vento.

hoje, eu apenas debocho da sorte da vida e aceito o afago dos que me dizem poeta,

mas eu apenas espio o suspiro das frágeis vidas

e falo de amor, cicatrizes, feridas

encontros, desencantos e das partidas que assisto atenta e muitas vezes passiva,

por entre as fendas sombrias, de portas pra sempre batidas

e pelas frestas que vazam luzes poéticas, de janelas que insisto em deixar entreabertas...

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(sheyladecastilho°

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sexta-feira, 27 de março de 2009

A LIBERDADE

Uma borboleta voando
A cachoeira chorando
O paço da amada chegando
O leite na tigela qualhando

Ver o mundo pela janela
O olho castanho dela
Um grito que da rua vela

Aquele povo guerreiro
O porco chafurdando no chiqueiro

Da fazenda que abriga a estiagem
Cheia de gente de vontade

De trabalhar
Visitar o mar
Ver o luar
Na noite cantar

Até no carrapato que bebe o sangue
Do cão preguiçoso que no alpendre engane

O menino que não tem medo
A avó que acorda cedo

O passarinho que voa
A mocidade à toa
Um grito que entoa

Sua cancão no frio
Um belo banho de rio
Aquele beijo tardio

Uma tarde de futebol
Uma pescaria de anzol
Subir até o farol

Que brilha sua luz

Seguir o que nos conduz

Ir onde manda o momento
Passear em cima do jumento
Honrar pai e mãe
No fim do dia um bãnhe

Pra relaxar do trabalho
Tomar um bom chá de alho

Pra dormir bem
Acordar bem também

E ver que o mundo é bom

Até onde o bom chegue
Deitar à tarde na rede

Escrever quando chega a noitinha
Dormir com você de conchinha

Pra depois fazer uma família
E pra poder trocar a pilha
Do pequeno que veio dos dois

Deixar pensar pra depois

Sentir que tudo é passageiro
Viver a vida ligeiro
Correr e chegar em primeiro
Brincar e ser bagunceiro

Relembrar que o passado existiu
E que nele se algo sentiu

Olhar sempre para frente
Queimar-se na panela quente

Que tanta comida proveu
E quem dela não comeu
Te digo:
Em Liberdade não viveu.

Petro.

Fortaleza, 03/03/09

quinta-feira, 26 de março de 2009

sonho de retalhos



teço sonhos como colcha de retalhos,
enquanto a cega e soberana do castelo
reza o terço santificado, que a redime dos prazeres solitários
que desfruta cheia de culpa,
naquelas noites em que sonha ser puta, pela ausência de um grande amor...
curo as chagas de um amor mal acabado,
costurando a pele com fios de cabelos dourados que se espalham no meu colchão.
eu posso voar e mesmo que eu queira não posso parar,
começo a subir e sinto prazer em cair do meu sonho no teu telhado,
e você descobrir que desejo você quando estou ao teu lado...
acordo assustada, os dentes cerrados, o corpo molhado, o travesseiro jogado,
eu olho pra esquerda e não tem ninguém do meu lado.
ajeito a calcinha, o lençol revirado me sinto sozinha, te sinto no passado...
eu sei que sonhos e encontros nunca são em vão...
mas gostar, eu gosto das coisas
por pessoas, eu sinto tesão...

(sheyladecastilho°

ANTROPOFAGISMO

Eu, sem ser antropófago,
já saboreei muita gente por aí.
Minhas preferências são os esbeltos
violônicos corpos femininos: a mulher.
Ah! Se a humanidade fosse toda antropófoga
como eu teria o prazer de ser devorado
em um banquete ou bacanal de lindas garotas
sexys, histéricas, eróticas
e eu, em cima de uma mesa qualquer totalmente nu.
Assado ou cozido.
Recheado de cebolas, tomates e farofas.
Enquanto Odete espetava um dos meus esverdeados olhos
que outrora foram profanos,
Judite arrancava minha língua e mastigava furiosamente.
Depois Maria Helena
pegava uma faquinha de mesa e cortava
delicadamente meu pênis ereto e dizia entre-dentes:
-Como é gostoso esse Mário Gomes.
*
Mario Gomes
(do livro Uma Violenta Orgia Universal)

sexta-feira, 20 de março de 2009

Distorcido

O mar está calmo -
eu, estou calmo.

Esse mundo bravio -
também está calmo.

Como o momento vazio -
o ar está calmo.

Somos só eu e você,
meio num sem querer,
estarmos um com o outro.

Não nos amamos mais,
mas nos suportamos.

Da rua vêm silêncio,
nenhum ruído.

Talvez um corpo no chão,
prostituído.

Um cachorro late,
com sem seu osso
e às sete horas bate,
a hora do almoço.

Essa página não ficou
em branco.

Tanto estou negro,
que negro é meu pranto.

Sala vazia, quadros que
vêem.

Plantas inertes, voam
sem vento.

Serena uma breve lírica -
uma chuva de momento.

E aqui sozinho - eu penso:
"Não sei se aguento."

Porque tão banais, as
horas convêm.

Um tanto abismais,
pessoas não falam.

Deixam que a noite
e a morte - também negra,
façam o que sempre fazem,
às más línguas as calam.

E o poema, comprazem.

Petro.
17/03/09

sexta-feira, 13 de março de 2009

Para o Breve Momento

É de se esperar do outro
que não nos decepcione
ou, ao menos, um bom presságio
seje, amigo um adágio
para o breve momento
e que se estacione
na porta de nosso coração chocro
para fazer-nos um acalento

Palavras difíceis nos permeiam
algo nada, nem um pouco natural
mas que, no mais das vezes
soam como um conforto que precisamos
para o breve momento
fazermos um meio particular o geral
e entendermos as rezes
como parte que o rebanho aceitam
de modo que a ele olhamos

É mesmo verdade ou ousadia
que quando esperamos dos demais
mais do que estes podem nos dar
algo acima de suas capacidades
para o breve momento
estancado no mel das mocidades
a gritarem tudo o que podem gritar
pois que sempre querem mais e mais
dessa tarde que adolesce a poesia

Não pode-se correr por outro canto
é bem certo que precisamos envelhecer
vivendo a vida de seus pormenores
batalhando tudo, até mesmo o tédio
para o breve momento
em que se vê nenhum remédio
a não ser as dores menores
que fazem desse nosso entardecer
a bemvinda velhice de um espanto

Quando, por fim, entardecemos
vis, voláteis e já sem tanta roga
aceitando o que a idade aprova
vivendo do que há para acontecer
para o breve momento
esse que é a vida que se renova
no broto plantado no amanhecer
e que aos poucos aceitaremos
sem que outras novidades sem invento
impeçam os dados que o destino joga.

Pedro.

quinta-feira, 12 de março de 2009

versos nus em carne viva

desejo essa carne viva da vontade muita que me esfola a pele

me entrego a esse desatino que arranca o couro mas não cora a cara

aceito a tua recusa clara pros meus desvarios que te exponho em versos

mas renego o pudor imposto que me afasta ardida do abortado abraço

desfaço juras nunca feitas por falta de tempo ou talvez cansaço

te caço me sentindo a presa que se rende fácil ao que diz tua língua

me amasso nessa cama quente em que nada espero por querer demais

e me esfrego em versos indecentes excitando a noite e pedindo mais
(sheyladecastilho°
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quarta-feira, 11 de março de 2009

NO COURO DA EMOÇÃO (ROUBANDO DAS V.V.)

É no couro ou não é ? é no couro !
É no couro ou não é ? é no couro !
É no couro ou não é ? é no couro !
É no couro ou não é ? é no couro !
Comadre sebastiana gosta de correr perigo
Quando o marido viaja ela sai com o primo rodrigo
Só volta quando o sol nasce mas diz que é só seu amigo
Este povo fala demais, preste atenção no que eu digo
Abra o olho sebastiana, veja lá o que vai fazer
Se seu marido souber o couro vai comer
Seu marcelino da venda adora a mulata joana
Por ela morre de amores e sonha levá-la pra cama
A patroa do marcelino pediu conselho á cigana
E soube da traição do marido, pois coração de mulher
Não se enganaMarcelino estava no crime e a patroa apareceu
Foi a maior confusão e o couro comeu
Você não quer cozinhar, você só quer vida mansa
Não quer lavar, nem passar e nem cuidar das crianças
Tô cansado de trabalhar enquanto você só descansa
Não sei pra que fui me casar, vou empenhar a aliança
Se conversa não resolve, a cinta vai resolver
Levanta já desta cama, mulher, que o couro vai comer
Maria rita, menina linda, tu nunca me dá bola
Eu sou feio e pobre e você a rainha da escola
Quase perco o controle quando tu passa e rebola
Meu destino é ser mesmo sozinho pois meu xaveco nãoCola
Maria rita, me dê uma chance e você vai se surpreender
Se te pego na quebrada, menina, o couro vai comer...
(eita fastio danado...)

Conto de uma Linha só

A vida tem um fim.

Pedro.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Minha paixão é feia



Um dia eu te falei - lave-me de ti ...
Porque não podia suportar a intensidade do que já sentia e queimava como fogo,
as saudades antes mesmo de que voce tivesse partido, depois de uma noite de amor louco, horas velando o teu corpo nu ... quanto tempo para deixar de sentir esse fogo? quanto tempo ardendo, derretendo palavras, sufocando em lágrimas a emoção mãe, o nosso destino cruel, a nossa irremediável solidão? um passo, um afago, um apelo, máscaras, súplicas, promessas vãs ... vê que que o mundo dá voltas e o fogo segue queimando, agora ansiando por outro corpo, mas é a mesma entidade! não posso suportá-lo, mas o desejo mais que nada. não posso aceitá-lo, mas ele não pede licença. é um exército de mercenários. sim, eu os reconheço porque sou feita da mesma matéria, partimos todos da mesma origem. sou capaz de invadir um coração e despedaçá-lo só para sentir o gosto de sangue. e ela, a minha alma predatória sofre, incapaz de dar liberdade, incapaz de conceder o benefício da dúvida, ou como voce disse - incapaz de tolerar a covardia. porque ela, a minha alma predatória, deseja o mundo inteiro para si. minha paixão não conhece limites. minha paixão ou mata, ou morre! minha paixão é feia. mas meu coração me salva.
*
Anete Antunes

Retalho

Aqui, de onde estou, vejo um piano, uma televisão ligada, um aparelho de telefone; e, em um ambiente separado, o que posso sentir é uma mesa que trás à lembrança a antiga mesa de jantar na casa em que morei alguns dias atrás, em uma visita à cidade de Recife, quando em uma época de férias, viajei para lá e assistia a um ambiente tão só e parecido com este, aqui eu levo o peso da pena a descrever também uma varanda que vejo, para onde vou fumar um cigarro em algumas horas do dia, quando o acalento da tarde mo traz alguma calma e fico esperando sempre que entre alguém pela porta da frente e que destrua esse sentimento só o qual traz a saudade das pessoas que amo e que agora encontram-se tão grande distância, para vencer, o que trás a melancolia e desocupando o lugar onde estou, fico a querer vaguear. Porém, sinto que está tão longe esse sentimento de paz, esse o qual tão desejado é e quanto à esses sentimentos, que são derrubados um a um como o jogo do dominó, uma certeza de que outros se seguiriam e agora tornariam um figurativo de tristeza, algo com o qual nada se resume, tudo se estampa a uma bandeira da felicidade e da humildade, dois sentimentos tão sacros e ao mesmo tempo tão decepcionantes se não cultivados da maneira correta. Tudo canta ao meu redor, pássaros piam como sábiás e o barulho do mar lá fora frio que estava lembrando-me todas as minhas cores na infância e na boa adolescência e tudo me faz alegre nesse momento exorbitante e bem lembrado por minhas boas gentes que conheci em toda minha vida, em todo o meu alento, onde revivi e vivo ainda respaldando em meus sonhos e à sorte desse meu caminho.

Pedtro.

impulso virtual



durante os lentos dias em que aguardo para fazer do meu corpo tua moradia, amadureço em minhas entranhas estranhas estratégias, para que não mais de mim teus olhos partam...
sim, e se enfim você viesse eu te seduziria, para que lento e tenro o meu corpo adentrasse e que lá no fundo você encontrasse o cheiro das estrelas que mais brilhassem, te convidaria para que viajasse pelo céu estrelado da minha boca, louca e rouca.
e também te pediria, para que mergulhasse nas reservas de água doce que armazenei em mim, enquanto o tempo passava e eu me guardava pro teu corpo viril e exato.
e nesse poço que possuo dentro, quero que saiba que guardo também o lamento, pelas horas baldias que se arrastam sedentas...
faminta e insone pela casa vazia, me embriago de vontade, vinho e poesia... transbordando a minha feminilidade escarlatizada, que estampa de desejo os sonhados e acordados beijos e que afloram, defloram e florescem o meu instinto animal, me tornando compulsiva e ardente nessa febre irracional...
e sorrio ao perceber, que poética e uivante te alicio discreta e publicamente, irrefreavelmente passional, platonicamente seduzida nas entrelinhas melódicas, metafóricas e inquietas, desse uni-verso virtual.


(sheyladecastilho°

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domingo, 8 de março de 2009

Por falta de gentileza

J. A., 42, chamemo-o de João, mendigo a pouco tempo, depois que foi perdendo tudo aos poucos. Andava, faminto pelas ruas noturnas de uma grande cidade qualquer.

Caía uma chuva fina, mas ele não se importava, para ele, era um pouco de limpeza, na verdade, isso só formaria uma lama, pois estava muito sujo, sem falar da roupa que depois iria feder mais, e ainda poderia pegar um resfriado. Chegou num viaduto, encontrou uma senhora, também mendiga, com seus quatro filhos, logicamente também mendigos. Ela, preparando um feijão numa panela preta de tão velha, os meninos, tentando dormir para enganar a fome.

João se aproxima e pede um pouco do feijão que ela cozinhava. Então que ela responde.

- Meu sinhô, eu inté gostaria d'ajudar, mas dessa vez num posso, não. Né por falta de comida ou de gentileza, não, pois o que tem aqui dá pra nós e pro sinhô. Mas o pobrema é que eu botei veneno no comê. A uns vinte dia atrás fomo expulsos da favela eu, os minino e o disgramado do pai deles. Desde então moramo nesse viaduto. Aí o filho da puta do Manel num guentou a humilhação e semana passada ele num se empindurou nesse viaduto? Poisé, enlaçou uma corda no pescoço, com a outra ponta no poste e pulou, meu sinhô. Na frente dos minino! Tu imagina, meu sinhô! Deixá mulé e minino pra criá e se matar na frente de todo mundo! Daí nós tamo pedindo esmola pra comê, mas num tou guentando mais não. Isso é vida de cão, meu sinhô! Vou me embora também, e vou carregar meus bacurim junto. Cê me entende, né, sinhô?

João a olhou, olhou para os garotos enfileirados, depois olhou para os poucos carros que passavam ali, desceu uma lágrima de seu rosto e pensou: “o que é que estou fazendo aqui mesmo?” e depois disse.

- Dona, se a senhora num se importa, acho que vou pegar carona também. Dá mesmo pra dividir pra mais um?



CA Ribeiro Neto

sexta-feira, 6 de março de 2009

O bispo ou o diabo que me carregue?

Senhor José Cardoso Sobrinho, vulgarmente chamado de Dom José. Quisera fosse o senhor um Don Juan, conhecedor e admirador inconteste da mulher e da beleza feminina. Decerto que o senhor não passa de um homem vestido de poderes e vaidades e, por isso, fiz questão de deixá-lo mais leve, sem o peso dos encargos “divinos” de julgar a humanidade. Nós, sociedade, poderiamos também excomungá-lo. Sim, temos esse poder, pois já foi o tempo em que o pensamento dogmatizado reinava absoluto nessa terra, muitas vezes, esquecida até por Deus.

Contudo, não vou agir tal e qual o senhor fez com a mãe da menina de 9 (nove) anos e com os médicos que cumpriram com a lei, nossa lei e, certemente que é a lei de Deus também, pois somos sua imagem e semelhança, em estado constante de evolução. Hoje, as igrejas começam a reconhecer a importância do trabalho de Darwin, também rejeitado pela sua Igreja. Não a minha. São muitas as moradas...

O pedófilo que abusava da tal menina, desde os 6 (seis) anos de idade, não foi criticado pelo senhor, tampouco expulso do seu “paraíso” torto.

Não vou agir como senhor porque sou um homem que, mesmo em casos extremos como o seu, respeita a diversidade, o direito à opiniões diversas. Porém, não me calo. Também me sinto legítimo representante de Deus para me pronunciar, livremente, graças, não ao senhor. Não vou condená-lo, não me compete isso, nem mesmo desejo ser juiz de nada. Sou um cidadão que transita pelo mundo e bem conhece dos caminhos e descaminhos da vida.

Quero apenas dizer que a vida daqueles que o senhor condenou em nada vai mudar. Continuarão a amparar e cuidar da saúde de seus filhos, toda a sociedade. Falo de uma Saúde maior, a saúde que compreende o direito de uma menina a permanecer menina, como é, e não seria mais, caso tivesse continuado a sua gravidez. Talvez que até morresse, não tinha um corpo desenvolvido o bastante para ser mãe, ainda não.

Espero, sinceramente, que, um dia, essa menina, quando mulher, se dê esse direito de ser amada e de dar à luz à um filho ou filha. Não tenho idéia do tamanho do trauma que um ato desses possar causar em um ser humano.

Pergunto-me como alguém poderá voltar a confiar nos homens quando o “pai” (que significa padre), que devia protegê-la e ama-la, era o seu torturador, capaz de destruir a vida da própria filha. Também me pergunto como acreditar em um padre (que significa pai), que se diz mais conhecedor e mais próximo do Pai-Padre maior e universal, que excomunga pessoas que salvam vidas, salvaguardando a infãncia de nossos filhos.

Outras igrejas, muitas delas interessadas apenas em usurpar seus fiéis, acolhem todo ser humano: assassinos, ladrões, prostitutas, etc. Será que elas, as outras igrejas, entendem que todos temos o direito de nos regenerarmos, de aprender com os nossos erros e optarmos por um novo caminho, mais correto e equilibrado?

Sou batizado, catolico-apostólico-romano. Se o senhor conhecesse meus pecados, certamente também me condenaria, a começar pelo pecado de falar o que quero, melhor, o que penso. Tenho filhas. Uma delas tem cinco anos e quero deixar muito claro que faria exatamente a mesma coisa com minha menina, caso um terror desses viesse acometê-la - providenciaria a interrupção da gravidez, por que não dizer, o aborto. Penso que, desse modo, já estou, previamente, excomungado. E digo mais, faria isso, mesmo que fosse contra todas as leis. Nesse caso, estaria condenado sob todas as instâncias.

Pouco me importa, minha filha importa muito mais. Esse é um pecado do qual eu nunca me arrependeria. Serei queimado nos infernos? Que se assim seja. Ou seja, seja o que Deus quiser. Mas o que Ele quer? Não sei responder a esta pergunta. O senhor tem certeza que sabe?

Enquanto não chega o dia do juizo final, façamos um pacto: vamos nos esforçar para fazer desse mundo um mundo melhor de se viver. Vamos oferecer o perdão antecipado, dado que somos todos falhos, e promover mais paz a esse lugar, concomitantemente, lindo e baldio. E, sendo assim, não o julgarei, cada cabeça é uma senteça, mas nem por isso devemos perder a cabeça e sair execrando as pessoas do alto de nossa estupidez, como se fossemos Deuses, sendo, em verdade, apenas humanos, demasiado humanos. Amém.
Aluísio Martins

ars longa vita brevis

um dia, a vida nos mostra o quanto ela pode ser realmente breve e por isso a façamos leve, a façamos faceira, para que se viva plenamente a vida intensa e verdadeira...
um dia o tempo que nos marca a pele, nos aparece de manhã na frente do espelho e não se pode combatê-lo com corretivos e batom vermelho... não se deve camuflar aquilo que vivemos por inteiro. pois vivendo, acumulamos experiências e alegrias e também mágoas e marcas que produzem nódulos e nós na garganta, mas não podemos jamais perder a esperança, seja ela qual for...
é extremamente necessário acreditar no amor, na parceria e na comunhão, no livre arbítrio que temos nas mãos e saber dele, para semear coisas lindas no solo fértil de nossas conquistas e lá hastear a bandeira da vitória, sem jamais perder a humildade para que se possamos ser dignos de verdade e enxergar o mundo e as pessoas com olhos otimistas, pois o corpo que por hora habitamos é frágil e nos arma ciladas... é um peso que a alma carrega e que um dia vira pó e nada...
portanto, vamos nos olhar mais profundo dentro dos olhos, admirar pássaros em revoada, amar com o corpo e também com a alma, acreditar nas fantasias e saborear o lirismo que nos toma, quando vivemos a poesia sagrada de todo dia...
por que a arte é longa mas a vida, breve.


(sheyladecastilho°

quinta-feira, 5 de março de 2009

Pedro e o Lobo

Capitulo 1
São dias quentes de presumida vitória:
É o fogo, é o fogo!
Pedro adentra o vilarejo com seu velho/novo drama:
É o Lobo, é o Lobo!
O Lobo aceita o assédio das labaredas
Dá seus pulos, duvida, ostenta
Veste seu melhor Cordeiro de Gala
e desaparece na fumaça
Puffffffffffffffffff
*
Net
Aqui, qualquer semelhança será mera coincidência!!

terça-feira, 3 de março de 2009

Imanência

Por um instante, cessou o vento. Agora podia ouvir claramente os sons da noite. A canção dos grilos, o coaxar dos sapos, a dança muda das árvores, o luzir das estrelas. Eu permanecia imóvel e com a respiração suspensa. Sim, agora era possível distinguir as desejadas vozes, do murmúrio das águas e trazê-las como em sonho para mais perto, reencontrar-me no sentido das frases soltas - como folhas ao vento, mas à sua total revelia. Sabia que ele logo retornaria e levaria consigo folhas e frases, misturando tudo novamente. Era necessário apenas um piscar de olhos para alcançar a verdade. Mas me perdia na maravilha sensorial, na tentativa de processar os códigos da natureza sem me dissolver no todo, sem ascender à reintegração, correndo assim o risco de desaparecer ... O vento viria e me devolveria à consciência do corpo, e ao esquecimento.