terça-feira, 29 de julho de 2008

Despe-me!...


Foto: Aloisio Brito

Agora que o Calor se aproxima…

O corpo pede…

Despe-me!...


Boas Férias!

domingo, 27 de julho de 2008

666

CÃO DOS INFERNOS

DIACHO DO RIACHO

CAPIROTO SEU ESCROTO

BICHO FEIO, COISA RUIM

GRUDA NA CARNE

PULSA NA PELE

ADORNA MEU CORAÇÃO



Gente cara,

Sou mestre na arte de encompridar pavios. Decerto que guardo no sótão meus artifícios. Fogos? Preciso do que me arde.

Meu alimento é combustão. Meu querer é combustível. Os percalços? Incinero e gozo, qual imperador, a arquitetura chama nos palácios que não me cabem. Nenhum. Nada de palavras-grades que podem conter o incontível como um “eu te amo” dito pela covardia de se ser odiado.

Da matéria que prima pela arte (arte-manhã-alma-minha), verto meus derivados e causo vertigem pelo impalpável e irredutível impagável meu existir.

Palavras justapostas, justamente, ditas ou expelidas de outra forma outra, elucidam o mistério de vencimento improdutívo do vendendor vendendo vencedores natos dos nossos melhores (pro)dutos.

Oficilmente, grandiloquente levo alimento aos que têm fome e fermento aos que anseiam fama. Inchem, pobres condenados. Hei de explodí-los de tanto elogio.

Em cada cena, um anceno e outras mil mecenas despercebidas nos meios-fios deslavados da estética do bueiro que sugere mergulho sem volta.

Caso eu falasse fluente, e falo, diria que sou improvisado pelo que há de sobrevida. Pelo que ainda pode haver de sobra. Nunca abaixo disso.

Sim, sou dados aos vivos (portanto, belos) contextos.

Em todos os sentidos, sou um homem de palavras. Estas são retro escavadeiras que lavram terra nunca dantes visitadas, nem por isso inéditas. Apenas elas aram estradas para o transporte dos ensejos e semeiam desejos e vícios que teimam pela felicidade.

Sou tira-teima da prova dos mais que nove possíveis outros mais inteligíveis à mim, quem sabe.

Ninguém sabe. Nem mesmo este que, a esmo, pleiteia pulo sobre o muro de silêncio, de silício, de Berlim, de China, de bem aqui, dentro do peito.

Longuínquo, digo...
(aluisiomartins)

domingo, 20 de julho de 2008

Boa praça


Foto: Dra Aline Piol - Médica do Sertão

Por onde andam os poetas?

Em que breus moram os andaluzes cá do nordeste?

“bichos escrotos saiam dos esgotos”

Olvidamos os duelos de repentes.

De titans.

Duo elos de muitas candeias.

A dialética da fome surtada

[mais que comida ao organismo físico e tísico

Com a forma sucinta

Suscita apêndices, regurgitares, regozijares

Apendicites agudas da indigestão do umbigo

Em gestão consoante

A sugestão do Chef

[Que se prove

[Que se pague

Pelo importado

Cof, cof, cof

Nossa língua parece que engasgou no tempo

Perecemos quanto mais parecemos...
(aluisiomartins)

sábado, 19 de julho de 2008

adiVida


desconheço o autor da foto

Toda via é ida e volta
Todavia, nem toda via é via para se achar caminho

Em via de regra

A via mais curta encurta a vida
Quando havia outra via ainda viável

Ávida pelo viajante

que se via
no outro lado
da via
que se vinha

No viaduto enviezado

Aviário, apesar do peso
A via era de mão dupla
Quando nada mais havia

A via sacra sacrifica a vida, saca?

A veia esgota ao longo da jornada

Se alivia

A via láctea engarrafada na porta da casa
Com prazo de vida

Se alí via
A vida outra na morada da alma
Comprazo de vida

Onde a via em carne viva

Mais viva que a minha
Havia de ser
Minha via toda por toda vida minha

(aluisiomartins)

terça-feira, 15 de julho de 2008

Grão em grão


Foto de Celso Oliveira

Eu já os admirava pela polidez e pelo polimento. Embora gregários, uma autonomia sutil como deve ser a liberdade – sem alarde nem oca publicidade. Decerto que, à primeira vista, causam impressão de arrogância. Até mesmo blasé. Mas não passa de ilusória impressão. Poderiam, se quisessem. Porque vivem acima das nossas possibilidades. Porque vivem abaixo com nossas impossibilidades.

Possuem arguto senso estético. Pairam somente onde as inteligências fizeram (fazem?) história. Urbanos. Não por qualidade nata. Mas por excelência. O que dizer de suas observâncias? Postados em refinados parapeitos ou majestosas sacadas, assistem, fixamente, nossas incoerências quando cuspimos nas baixelas que nos servem manjares.

Para eles migalhas. Grão em grão de ignorâncias. Nenhuma honraria. A não ser por uma já esquecida relação com a paz – cada vez mais rara entre nós.

Ao contrário de tantos que primam pelo hediondo (lucram, inclusive), estes tem almas de artistas e um profundo respeito pela história.

Casarões, monumentos e praças são predileções para os passeios matinais ou vespertinos. Nada de modernidades capitais.

Fotogênicos que são, pousam para posteridade em praças Paris, inglesas e papais. Adornam os retratos daqueles que possuem pouca ou nenhuma memória.

Trabalham gratuitamente em prol da dignificação das virtudes. Apesar de levarem a vida no bico: cartas de amores distantes ou proibidos e trevos. De quatro folhas, que se diga. Nutrem, portanto, a beleza das coisas.

Nós, em estado quase vegetativo, damos milhos aos pombos.
(aluisiomartins)

segunda-feira, 14 de julho de 2008

PÁGINAS SEM FIM

Páginas Amarelas

Nas páginas amarelas tem tudo que você não procura, não precisa, não quer saber.
Tem amarelo demais, preto de menos, nenhum branco, azul aqui e acolá, verde...nem pensar.
Nas páginas amarelas, de tudo um pouco, do muito, nada. Ordem analfabética das coisas desordenadas, sobrepondo-se como vespas (amarelas?) ordenadas e alfabetizadas.
Sobram números de páginas soltas na vã procura, códigos, telefones ocupados ou desculpe, é engano.
E suas digitais nas orelhas, como o livro de leitura chata do milionário operário presidente bóia-fria analfabeto imaculado e nunca, nunca, enquadrado.

MASA
8/7/8

domingo, 13 de julho de 2008

Virtualismos (reprise, mas inédita - tudo flui)


Desconheço o auto da bela foto


Acabaram com as caixas de correio. Conspiram contra as cartas. Sentimentos eternos para destinos estáticos que, sob vigilância feroz e angustiada, aguardam boquiabertos o seu mundo mudar.

Elas, as cartas, quando chegam, arrancam lagrimas, gritos e risos. Ouve-se músicas antigas. De fossa. De bossa. Acompanhadas por um pileque, atrasando a fome e acelerando o amanhã de manhã, que nunca chega.

Elas, as cartas, quando saem, temperam a pele com o sal que vem do mar e cozinham a pressa em banho-maria, com fogo brando que derrete, lentamente, a esperança do reencontro, e uma brisa seca o suor derramado no apelo efêmero.

Hoje, por teclas insones, se enviam palavras mudas aos endereços fúteis que, sem culpa, nem pudor, acumulam em suas lixeiras o dialeto da esquiva, dos que desconhecem as esquinas da vida, cheias de bares e brilho. Onde, pais e filhos procuram, furtivamente, o paraíso prometido, tentando fugir da nova poltrona, da velha matrona que espera, com olhos arregalados, seus pobres coitados retornarem cansados e vazios para lhes aquecer os pratos e esfriar-lhes o pranto. E, durante seus roncos, se sonha meretriz do ídolo das oito.

Acabaram com as caixas de correio.

Acabaram, severamente, com Chico e Marieta, que se amavam pelas cartas que cruzavam o atlântico, os rios, as florestas e, sempre, não importando o destino, chegavam a Paris.

Acabaram com as filhas que se perdiam no velho mundo e usavam, como desculpas, as cartas - é tudo culpa do correio mamãe. Na carta perdida está minha vida, escrita, tintin-por-tintin. Já vou me despedindo, tenho aula de artes cênicas. E, cinicamente, choravam de rir.

Acabaram com as caixas de correio.

Acabaram enfim, com a saudade que, na distância, fazia o amor ser visto mais de perto e mais bonito.

(aluisiomartins)

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Urbe


Vejo um bando de gente-mosca transitando lixos urbanos. O caos inerente à alma de quem se alimenta de réstias. Mas há uma harmonia, ainda que sutil. Lá se vão, de ilha em ilha, de prato em prato. Rápidas e precisas. Sem abalroamentos e contusões mais graves. Estacionam somente na hora de alçar de vôo para o outro lado. Esperam a passagem dos monstros ensandecidos que seguem suas preferenciais. Elefantes histéricos e rinocerontes deslumbrados. Isso tudo compreendo. Exceto suas músicas estereotipadas. (aluisiomartins)

o apreço da arte




Decretada a greve das claquetes
O descanso das interjeições e grunhidos premeditados

Desço o palco travestido de mentiras
[e muitos dramas

Desafio o estúpido sorriso
congelado na cara do expectador
que anseia a queda

A arte
[caríssima
vive nos poros
dos lixos esquecidos
dos becos e sinistros
dos leitos

Terminais das estações sem termo
[sem teto

Nas latrinas magras dos botequins
que revelam os hábitos e restos
[miseras vidas

Funestos adubarão a terra seca
Bem mais e melhor que suas sucatas inúteis

Nos charmosos recantos
choram as academias
[desentendem a paisagem
do bizarro aquário onde se diz:
Não dê comida aos macacos.
(aluisiomartins)

terça-feira, 8 de julho de 2008

Ingmar Bergman

Estou re-lendo Vida de Marionetes de Ingmar Bergman. Livro-roteiro dando continuidade de vida ao casal de Cenas de um Casamento. A dor de se viver a dois. Um pacto de solidão e ódio disfarçado em silencio.

Entenda-se por esse ódio algo mais além e profundo que raiva ou qualquer emoção rompante. Nada disso. Quase tão forte quanto o desprezo. Daí um amor profano. Quem não sentiu ódio de Deus por tanta indiferença, por vezes? Todos podemos matar? Inclusive e principalmente a quem mais amamos. Basta plantar a semente da imagem crime-castigo e, brevemente, nasce um plano incoercível, portanto, vital. À somente um, que se diga. Dado que é plano de morte do outro. É como queima de arquivo que tanto acontece por aí. Conhece meus segredos e corro mui provável risco de infâmia.

Antes escolher a viuvez que soa tão digna e inerte de máculas que o eterno retorno do não. Desde criança implantado na ex-futura coragem de ser.

Bergman não se conformou em deixar a velhice se empanturrar de dias inóspitos. Foi providencial. Bergman foi Deus. Como somos todos. Genitores de inúmeros destinos. (aluisiomartins)

Mãos de fado - aluisiomartins

Desde em tenra idade já me sabia um nostálgico incurável. E pior: sem encontros concretos, do tipo que nos chegam indiscutíveis e não nos chagam indeléveis. É óbvio que, de certa forma, para mais ou para menos, é a assim que corre o rio do viver humano, em geral. Mas meu caso é mais crônico – fui embevecido em tonéis e mais tonéis de utopias e poesias. O lirismo me persegue desde então. Tanto mais no ritmo solene, austero, condolente, até. É bem possível que antes, em outras encarnações, eu tenha sido um daqueles que sonhou, sonhou, sonhou e se afogou em lìquidos de sentimentos.

Hoje, sou um praieiro que evita o afogamento temido, molhando levemente os pés n’água. Claro, existe ainda o risco iminente de Tsunami me atingir em cheio. Mesmo vivendo nestas bandas secas. Porém isso é coisa pouca, miúda mesmo, para quem já vive sob os caprichos da lua.

O negócio é que quando escuto, seja uma voz interior, seja um canto místico acompanhado de um violão, fico completamente sem rumo. Desnordesteado. Dou-me o direito ao neologismo. Não há o desnorteado? Ora mais... Bem, nessas horas as glândulas responsáveis pela produção de sede e lágrimas começam a trabalhar em ritmo frenético. Fico mareado e bamboleio atrás de um molejo ou uma cadeira que se faça de colo ao filho perdido. Daí em diante meu destino está traçado: mais uma noite nos braços da eterna jovem e sedutora madrugada. Essa moça que sempre se renova, pois dorme, invariavelmente, logo que o sol dá vistas de que está surgindo e só acorda quando seus amantes já lhe cantam, mais em versos que em prosas, para que nunca mais os deixem sozinhos, sem amor.

Não se trata da solidão física, percebam. Nunca se está sozinho quando se tem amor para dar. Encontrar o objeto deste amor é uma outra estória. Porque para nós, nostálgicos, ele (o amor) nunca se encerra, nunca se sacia e nunca mesmo se suicida. Senão não seria nostalgia e sim assassinato ao bem maior que é a vida que, para seres como nós, é um detalhe muito relevante para que possamos gozar de nossa natureza rara.

A alma é maior que a casa que nos carrega – o sentimento de aperto é inevitável. O mundo é bom! Nós sabemos disso melhor que ninguém. Tanto que a nossa medida maior é a intensidade e não o tempo. E mesmo quando ruins tais sentimentos, ainda assim é maravilhoso sentirmo-nos, como diria? Nostálgicos, isso. (aluisiomartins)

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Relação passada à limpo




Dove, que fora sempre muito polido, agora, espumava-se de raiva.

Nívea lhe dizia: mesmo que eu perca minha reputação, você não tardará em lamber meu corpo. Não fizeste economias em me prometer que contigo eu seria uma rosa perfumada. Vai ter que afundar comigo. Nívea vociferava, enquanto enchia a banheira.

Dove: terei culpa se te iludiram? Tua pele, por acaso, enruga por minha causa? Nunca falei que sanaria os acidentes de tua vida e cobriria tuas lacunas, tão evidentes. Não me quer? Jogue-me no lixo.

Nívea: você é igual a todos: um covarde! Já fala em me abandonar? Sei bem qual o teu plano: quer me ver na lama para que, em seguida, eu recorra aos teus serviços. Você fede. Suja-me! E pensar que eu me abri inteira...

Dove: e você, puritana? O que faz por mim? Só me critica...

Nívea: não fosse por mim você morreria largado num canto qualquer. Vencido! Já nasci cara. Não preciso me promover! Dou-me o devido valor. Meu erro foi dar ouvidos a minha vizinha, Vinólia, que falou que tu estava dis-pu-ta-dís-si-mo. Você não vale o que pesa. Morra, desgraçado!

E Nívea afogou-o, sem piedade. De Dove só se ouviu interjeições ininteligíveis - glup...

(aluisio martins)

quarta-feira, 2 de julho de 2008

amor errante



Indepentemente de precipícios ou profundezas serei errante.

Amar é uma estrada sem retornos.

Há que alimentar-se de tudo, até que se descubra o que nutre e o que mata.

Não foi assim que muitos alimentos foram descobertos? Como terá sido a descoberta da mandioca braba como alimento?

Foram necessários sete dias de cozimento em fogo alto para que se comesse dessa iguaria sem o fim instantâneo.

No primeiro dia, um infeliz deu-lhe uma mordida e batata: ta lá um corpo estendido no chão. No segundo, alguém pensou em ferver e ferveu. Quem se arrisca? A curiosidade mata e matou – mais um. Isso, sucessivamente, até o sétimo dia – e Ele já podia descansar. Nenhuma alma penada, desde então, foi para além (ou aquém) por ter ingerido a mandioca que não era mais braba assim.

Todos mataram o que estava lhes matando - a fome. (aluisiomartins)