terça-feira, 15 de julho de 2008

Grão em grão


Foto de Celso Oliveira

Eu já os admirava pela polidez e pelo polimento. Embora gregários, uma autonomia sutil como deve ser a liberdade – sem alarde nem oca publicidade. Decerto que, à primeira vista, causam impressão de arrogância. Até mesmo blasé. Mas não passa de ilusória impressão. Poderiam, se quisessem. Porque vivem acima das nossas possibilidades. Porque vivem abaixo com nossas impossibilidades.

Possuem arguto senso estético. Pairam somente onde as inteligências fizeram (fazem?) história. Urbanos. Não por qualidade nata. Mas por excelência. O que dizer de suas observâncias? Postados em refinados parapeitos ou majestosas sacadas, assistem, fixamente, nossas incoerências quando cuspimos nas baixelas que nos servem manjares.

Para eles migalhas. Grão em grão de ignorâncias. Nenhuma honraria. A não ser por uma já esquecida relação com a paz – cada vez mais rara entre nós.

Ao contrário de tantos que primam pelo hediondo (lucram, inclusive), estes tem almas de artistas e um profundo respeito pela história.

Casarões, monumentos e praças são predileções para os passeios matinais ou vespertinos. Nada de modernidades capitais.

Fotogênicos que são, pousam para posteridade em praças Paris, inglesas e papais. Adornam os retratos daqueles que possuem pouca ou nenhuma memória.

Trabalham gratuitamente em prol da dignificação das virtudes. Apesar de levarem a vida no bico: cartas de amores distantes ou proibidos e trevos. De quatro folhas, que se diga. Nutrem, portanto, a beleza das coisas.

Nós, em estado quase vegetativo, damos milhos aos pombos.
(aluisiomartins)

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