segunda-feira, 18 de maio de 2009

Mediterrâneo


Como será teu rosto quando,
transfigurado pelo desejo?
O cabelo desregrado,
subitamente obscurecido pelo suor,
serpenteará na testa
e as pupilas emergirão do azul.
Tu serás meu cavalo, Ora leão, Ora fênix.
Terás o sabor e o aroma dos temperos que adivinho,
sempre regados com o azeite mais puro.
Se imobilizada pela sombra de teu corpo,
profanarás meu templo,
e juntos,
recriaremos o Mito de Pompéia.
Depois,
cobertos de lava e cinzas,
e vencidos “pêlo a pêlo” selvagem,
nos banharemos no Mediterrâneo.

sábado, 16 de maio de 2009

A Vizinha

Eu era um cara comum até conhecer a vizinha. Ela era uma mulher comum até ler este conto. Apresento-me como seu vizinho e ela atendeu a porta e convidou-me para entrar. Tomamos um café e entrementes eu pedi sua permissão para escrever sobre ela.
- Eu?
- Sim. Posso escrever sobre você?
Ela ficou vermelhinha de vergonha, mas consentiu. Eu fui fazendo-lhe algumas perguntas e tomando notas. Coisas banais como sua idade ou se já era casada, se tinha tido filhos, etc. etc. Me respondeu com muita calma e despreocupada. A conversa acabou tomando mais tempo do que eu esperava e quando terminamos já era tarde.
Em casa, preparei a máquina, alimentei com papel novo e comecei a bater a história de minha vizinha. Enquanto escrevia nada pareceu ser de bom gosto para mim. Amassei vários ensaios e joguei-os na lata do lixo.
Um bom tempo depois estava já ficando aperriado, as palavras não saíam e eu não tinha escrito mais do que meia página partindo da última tentativa. Olhei as horas e já era madrugada. Achei que podia ir na vizinha e tomar mais algumas notas, mas o medo de aporrinha-la me deixou na dúvida e, com o conto incompleto, comecei a andar de um lado para o outro sem saber que atitude tomar.
Após alguns minutos, tomei coragem e saí de casa para a da minha vizinha.
Ela atendeu a porta.
- Pois não.
- Olha, eu sei que é tarde; aliás já é quase de manhã e sei que a senhora é uma mulher ocupada, mas não consegui escrever nada e tinha de vir até aqui.
- Entre.
Quando botei os pés dentro do apartamento, tomei um choque: ela estava escrevendo, pois vi sobre a mesa da sala uma máquina e espalhadas, algumas páginas escritas.
- Você escreve? Por que não me disse?
- Você não perguntou...
- E, sobre o que está escrevendo?
- Sobre você!
Tomei um susto quando ela disse isso:
- Sobre mim!? Mas... mas eu é que devia estar escrevendo sobre você...
- E desde quando há regras sobre o que escrever.
Saí de seu apartamento amargamente frustrado. A vizinha ganhara de mim no jogo de quem escreve sobre quem. Mas como havia eu de imaginar que a danada também era escritora. Teria ela me usado? Fui dormir a pensar sobre essas coisas. Ainda profundamente amargurado. No outro dia pela manhã acordei com um bom humor inesperado e corri à máquina para escrever. Bati com vontade nas teclas e escrevi páginas e mais páginas - muitas mesmo - sobre as banalidades da vida, poemas, crônicas. Mas nada sobre a vizinha. Por mais que pensasse as palavras simplesmente não saíam. Coloquei para mim três questões. Ou era um péssimo escritor, ou não entendia nada de mulher (suas almas femininas indecifráveis) ou a vizinha era um alienígena.
Dias depois, por força do acaso, encontrei a vizinha no supermercado e perguntei se havia terminado o que estava escrevendo sobre mim.
- Terminei.
- E, então?
- Não sei ao certo. Fiquei com impressão de que você não entende nada de mulher. Ou que é uma espécie de alienígena.
- E, por que pensou isso?
- É que não entendi muito bem o seu jeito.
- Meu jeito? O que é que tem o meu jeito?
- Não sei como explicar.
- Como não sabe?
- Simplesmente não sei.
Nos separamos ali e naquele momento senti que deveria escrever alguma coisa sobre ela. A vizinha estava me irritando e eu queria sangue, ninguém jamais havia me humilhado daquela forma. Senti que não merecia a discrepância daquela mulher. Sentei em frente à máquina, alimentei-a com uma folha em branco e escrevi tudo o que sentia naquele momento. O resultado foi um conto longo, de quase quinze páginas, uma verdadeira análise do universo feminino. Fiquei tão orgulhoso com o que escrevi que quase chorei.
Na mesma hora toquei a campanhia da minha musa inspiradora disposto a mostrar - e se possível dizer também - tudo o que pensava dela, ou seja, que era uma mulher mesquinha e psicologicamente desequilibrada. E, o principal, que eu era muito mais escritor que ela.
Ela demorou um bom tempo para atender e quando abriu a porta, vi que estava usando uma lingerie muito sexy. Pasmei e tudo o que ia falar foi-se junto com a rajada de vento que levantou sua bata.
- Pois não.
- É que queria lhe mostrar isso. E empurrei-lhe os papéis.
- Entre.
Acontece que enquanto ela lia eu percebi que ela tinha um corpo muito bonito, apesar de o rosto não ser lá essas coisas. Quando terminou, olhou-me nos olhos e disse com sinceridade:
- Está muito bom. Parab´nes. Você é um ótimo escritor.
Engoli em seco e saí dali para casa. Desde esse dia não consegui escrever uma página sequer; abandonei a carreira de escritor e até pensei em me alistar no exército ou entrar para um convento. O fato é que ela se mudou dali após alguns meses e, ao que me lembro até lançou um romance que foi um sucesso de vendas.

Petro.

09/05

quinta-feira, 14 de maio de 2009



não percebo bem qual dimensão você habita
deve ser numa vila circular, com uma árvore centenária ao meio
deve ser uma casa amarela, com jardim, flores, trepadeiras e mosaicos no chão
o piso da sala é de tacos compridos, na cozinha há copos coloridos
na cama um edredon listrado, na lateral um criado-mudo velho (e calado)
toma vinho em canecas, também vi por aí umas bonecas
o chuveiro está pingando, no quintal há musgo e um antigo poço
tem postas umas calças verdes, na escrivaninha há uma caneta de estimação
na parede há um painel com fotos de amigos e parentes (sem esquecer do cão)
livros por toda parte, televisão, DVD, som e aspirador de pó
no chão há um tapete rústico e claro (para viagens emergenciais)
e um despertador de camelô, lilás
o sofá está puído, as unhas roídas
no espelho - teu sorriso maroto
e naquela teia de aranha, há um insecto morto
não percebo, mas imagino

terça-feira, 12 de maio de 2009

Um lugar de silêncio


Um lugar de silêncio é um lugar de entendimento.
É de silêncio, mas há muito movimento.
Meu lugar de silêncio acata todos os amanheceres,
todos os valores.
Ali temos oficinas para reciclagem de sobras,
salas amplas para apararmos as pontas.
Ao ingressarmos, zeramos todas as perguntas.
Nesse lugar não há dúvidas,
tudo é fluir.
"Paz sem voz não é paz, é medo"

quarta-feira, 6 de maio de 2009

semente (ou devolva meu fôlego)

quando eu te plantei dentro de mim eu nunca imaginei o tanto que você cresceria e crescendo assim dentro de mim eu não sabia que você invadiria e que você transbordaria um dia pelo meu suor pelos meus olhos pela minha poesia e que se espalharia também pela minha casa pelo quarto e pela cozinha e que eu surpresa e crente em milagres encantada adoraria e que também me fizesse capaz de sorrir por tudo e por nada quando me pego sozinha e eu não sabia que eu ficaria aguardando uma nova estação em que eu não te podaria mas esperando sim o florescer do amor ao qual sucumburia e da prova da fruta vermelha e doce que mel verteria na minha boca sedenta e tua que eu te ofereceria pois quando eu te plantei dentro de mim eu não sabia que isso era tudo que eu mais queria...

(sheyladecastilhoº
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segunda-feira, 4 de maio de 2009

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Pô, tamo no Ceará Grande...
Vamos falar do Tricolor de Aço, que "smashed" meu VOZÃO!!

Não porra de Flamengo!

Aí está meu protesto! Adeus!

Petro.