terça-feira, 8 de julho de 2008

Mãos de fado - aluisiomartins

Desde em tenra idade já me sabia um nostálgico incurável. E pior: sem encontros concretos, do tipo que nos chegam indiscutíveis e não nos chagam indeléveis. É óbvio que, de certa forma, para mais ou para menos, é a assim que corre o rio do viver humano, em geral. Mas meu caso é mais crônico – fui embevecido em tonéis e mais tonéis de utopias e poesias. O lirismo me persegue desde então. Tanto mais no ritmo solene, austero, condolente, até. É bem possível que antes, em outras encarnações, eu tenha sido um daqueles que sonhou, sonhou, sonhou e se afogou em lìquidos de sentimentos.

Hoje, sou um praieiro que evita o afogamento temido, molhando levemente os pés n’água. Claro, existe ainda o risco iminente de Tsunami me atingir em cheio. Mesmo vivendo nestas bandas secas. Porém isso é coisa pouca, miúda mesmo, para quem já vive sob os caprichos da lua.

O negócio é que quando escuto, seja uma voz interior, seja um canto místico acompanhado de um violão, fico completamente sem rumo. Desnordesteado. Dou-me o direito ao neologismo. Não há o desnorteado? Ora mais... Bem, nessas horas as glândulas responsáveis pela produção de sede e lágrimas começam a trabalhar em ritmo frenético. Fico mareado e bamboleio atrás de um molejo ou uma cadeira que se faça de colo ao filho perdido. Daí em diante meu destino está traçado: mais uma noite nos braços da eterna jovem e sedutora madrugada. Essa moça que sempre se renova, pois dorme, invariavelmente, logo que o sol dá vistas de que está surgindo e só acorda quando seus amantes já lhe cantam, mais em versos que em prosas, para que nunca mais os deixem sozinhos, sem amor.

Não se trata da solidão física, percebam. Nunca se está sozinho quando se tem amor para dar. Encontrar o objeto deste amor é uma outra estória. Porque para nós, nostálgicos, ele (o amor) nunca se encerra, nunca se sacia e nunca mesmo se suicida. Senão não seria nostalgia e sim assassinato ao bem maior que é a vida que, para seres como nós, é um detalhe muito relevante para que possamos gozar de nossa natureza rara.

A alma é maior que a casa que nos carrega – o sentimento de aperto é inevitável. O mundo é bom! Nós sabemos disso melhor que ninguém. Tanto que a nossa medida maior é a intensidade e não o tempo. E mesmo quando ruins tais sentimentos, ainda assim é maravilhoso sentirmo-nos, como diria? Nostálgicos, isso. (aluisiomartins)

Um comentário:

Cris Animal disse...

Acabei de postar algo no seu blog( uma bobagem....rs) e só agora resolvi postar um "comentário" neste seu texto. Eu li e reli dezenas de vezes. Não sei quando vc o escreveu e só vc saberá exatamente todas as sensções que o fizeram chegar onde chegou, mas esse seu texto é de uma ternura, uma angustia doce ( existe isso?) e de uma beleza imensa. DEMAIS, ou melhor, demais sobra...rs...na medida que o coração necessita.Que vc encontre a paz que esse texto oferece, pede e conta.
beijo