
Foto: Aloisio Brito
Agora que o Calor se aproxima…
O corpo pede…
Despe-me!...
Boas Férias!
Este espaço é dedicado a toda forma de manifestação. Não tem que ter utilidade, mas pode até ser de utilidade pública. Pois há quem sinta um grito para nascer do útero da alma. "Paz sem voz, não é paz. É medo."
Gente cara,
Sou mestre na arte de encompridar pavios. Decerto que guardo no sótão meus artifícios. Fogos? Preciso do que me arde.
Meu alimento é combustão. Meu querer é combustível. Os percalços? Incinero e gozo, qual imperador, a arquitetura chama nos palácios que não me cabem. Nenhum. Nada de palavras-grades que podem conter o incontível como um “eu te amo” dito pela covardia de se ser odiado.
Da matéria que prima pela arte (arte-manhã-alma-minha), verto meus derivados e causo vertigem pelo impalpável e irredutível impagável meu existir.
Palavras justapostas, justamente, ditas ou expelidas de outra forma outra, elucidam o mistério de vencimento improdutívo do vendendor vendendo vencedores natos dos nossos melhores (pro)dutos.
Oficilmente, grandiloquente levo alimento aos que têm fome e fermento aos que anseiam fama. Inchem, pobres condenados. Hei de explodí-los de tanto elogio.
Em cada cena, um anceno e outras mil mecenas despercebidas nos meios-fios deslavados da estética do bueiro que sugere mergulho sem volta.
Caso eu falasse fluente, e falo, diria que sou improvisado pelo que há de sobrevida. Pelo que ainda pode haver de sobra. Nunca abaixo disso.
Sim, sou dados aos vivos (portanto, belos) contextos.
Em todos os sentidos, sou um homem de palavras. Estas são retro escavadeiras que lavram terra nunca dantes visitadas, nem por isso inéditas. Apenas elas aram estradas para o transporte dos ensejos e semeiam desejos e vícios que teimam pela felicidade.
Sou tira-teima da prova dos mais que nove possíveis outros mais inteligíveis à mim, quem sabe.
Ninguém sabe. Nem mesmo este que, a esmo, pleiteia pulo sobre o muro de silêncio, de silício, de Berlim, de China, de bem aqui, dentro do peito.
Longuínquo, digo...
(aluisiomartins)
Eu já os admirava pela polidez e pelo polimento. Embora gregários, uma autonomia sutil como deve ser a liberdade – sem alarde nem oca publicidade. Decerto que, à primeira vista, causam impressão de arrogância. Até mesmo blasé. Mas não passa de ilusória impressão. Poderiam, se quisessem. Porque vivem acima das nossas possibilidades. Porque vivem abaixo com nossas impossibilidades.
Possuem arguto senso estético. Pairam somente onde as inteligências fizeram (fazem?) história. Urbanos. Não por qualidade nata. Mas por excelência. O que dizer de suas observâncias? Postados em refinados parapeitos ou majestosas sacadas, assistem, fixamente, nossas incoerências quando cuspimos nas baixelas que nos servem manjares.
Para eles migalhas. Grão em grão de ignorâncias. Nenhuma honraria. A não ser por uma já esquecida relação com a paz – cada vez mais rara entre nós.
Ao contrário de tantos que primam pelo hediondo (lucram, inclusive), estes tem almas de artistas e um profundo respeito pela história.
Casarões, monumentos e praças são predileções para os passeios matinais ou vespertinos. Nada de modernidades capitais.
Fotogênicos que são, pousam para posteridade em praças Paris, inglesas e papais. Adornam os retratos daqueles que possuem pouca ou nenhuma memória.
Trabalham gratuitamente em prol da dignificação das virtudes. Apesar de levarem a vida no bico: cartas de amores distantes ou proibidos e trevos. De quatro folhas, que se diga. Nutrem, portanto, a beleza das coisas.
Nós, em estado quase vegetativo, damos milhos aos pombos.
(aluisiomartins)
Estou re-lendo Vida de Marionetes de Ingmar Bergman. Livro-roteiro dando continuidade de vida ao casal de Cenas de um Casamento. A dor de se viver a dois. Um pacto de solidão e ódio disfarçado em silencio.
Entenda-se por esse ódio algo mais além e profundo que raiva ou qualquer emoção rompante. Nada disso. Quase tão forte quanto o desprezo. Daí um amor profano. Quem não sentiu ódio de Deus por tanta indiferença, por vezes? Todos podemos matar? Inclusive e principalmente a quem mais amamos. Basta plantar a semente da imagem crime-castigo e, brevemente, nasce um plano incoercível, portanto, vital. À somente um, que se diga. Dado que é plano de morte do outro. É como queima de arquivo que tanto acontece por aí. Conhece meus segredos e corro mui provável risco de infâmia.
Antes escolher a viuvez que soa tão digna e inerte de máculas que o eterno retorno do não. Desde criança implantado na ex-futura coragem de ser.
Bergman não se conformou em deixar a velhice se empanturrar de dias inóspitos. Foi providencial. Bergman foi Deus. Como somos todos. Genitores de inúmeros destinos. (aluisiomartins)
Mãos de fado - aluisiomartins
Desde em tenra idade já me sabia um nostálgico incurável. E pior: sem encontros concretos, do tipo que nos chegam indiscutíveis e não nos chagam indeléveis. É óbvio que, de certa forma, para mais ou para menos, é a assim que corre o rio do viver humano, em geral. Mas meu caso é mais crônico – fui embevecido em tonéis e mais tonéis de utopias e poesias. O lirismo me persegue desde então. Tanto mais no ritmo solene, austero, condolente, até. É bem possível que antes, em outras encarnações, eu tenha sido um daqueles que sonhou, sonhou, sonhou e se afogou em lìquidos de sentimentos.
Hoje, sou um praieiro que evita o afogamento temido, molhando levemente os pés n’água. Claro, existe ainda o risco iminente de Tsunami me atingir em cheio. Mesmo vivendo nestas bandas secas. Porém isso é coisa pouca, miúda mesmo, para quem já vive sob os caprichos da lua.
O negócio é que quando escuto, seja uma voz interior, seja um canto místico acompanhado de um violão, fico completamente sem rumo. Desnordesteado. Dou-me o direito ao neologismo. Não há o desnorteado? Ora mais... Bem, nessas horas as glândulas responsáveis pela produção de sede e lágrimas começam a trabalhar em ritmo frenético. Fico mareado e bamboleio atrás de um molejo ou uma cadeira que se faça de colo ao filho perdido. Daí em diante meu destino está traçado: mais uma noite nos braços da eterna jovem e sedutora madrugada. Essa moça que sempre se renova, pois dorme, invariavelmente, logo que o sol dá vistas de que está surgindo e só acorda quando seus amantes já lhe cantam, mais em versos que em prosas, para que nunca mais os deixem sozinhos, sem amor.
Não se trata da solidão física, percebam. Nunca se está sozinho quando se tem amor para dar. Encontrar o objeto deste amor é uma outra estória. Porque para nós, nostálgicos, ele (o amor) nunca se encerra, nunca se sacia e nunca mesmo se suicida. Senão não seria nostalgia e sim assassinato ao bem maior que é a vida que, para seres como nós, é um detalhe muito relevante para que possamos gozar de nossa natureza rara.
A alma é maior que a casa que nos carrega – o sentimento de aperto é inevitável. O mundo é bom! Nós sabemos disso melhor que ninguém. Tanto que a nossa medida maior é a intensidade e não o tempo. E mesmo quando ruins tais sentimentos, ainda assim é maravilhoso sentirmo-nos, como diria? Nostálgicos, isso. (aluisiomartins)
Dove, que fora sempre muito polido, agora, espumava-se de raiva.
Nívea lhe dizia: mesmo que eu perca minha reputação, você não tardará em lamber meu corpo. Não fizeste economias em me prometer que contigo eu seria uma rosa perfumada. Vai ter que afundar comigo. Nívea vociferava, enquanto enchia a banheira.
Dove: terei culpa se te iludiram? Tua pele, por acaso, enruga por minha causa? Nunca falei que sanaria os acidentes de tua vida e cobriria tuas lacunas, tão evidentes. Não me quer? Jogue-me no lixo.
Nívea: você é igual a todos: um covarde! Já fala em me abandonar? Sei bem qual o teu plano: quer me ver na lama para que, em seguida, eu recorra aos teus serviços. Você fede. Suja-me! E pensar que eu me abri inteira...
Dove: e você, puritana? O que faz por mim? Só me critica...
Nívea: não fosse por mim você morreria largado num canto qualquer. Vencido! Já nasci cara. Não preciso me promover! Dou-me o devido valor. Meu erro foi dar ouvidos a minha vizinha, Vinólia, que falou que tu estava dis-pu-ta-dís-si-mo. Você não vale o que pesa. Morra, desgraçado!
E Nívea afogou-o, sem piedade. De Dove só se ouviu interjeições ininteligíveis - glup...
(aluisio martins)