sexta-feira, 6 de março de 2009

O bispo ou o diabo que me carregue?

Senhor José Cardoso Sobrinho, vulgarmente chamado de Dom José. Quisera fosse o senhor um Don Juan, conhecedor e admirador inconteste da mulher e da beleza feminina. Decerto que o senhor não passa de um homem vestido de poderes e vaidades e, por isso, fiz questão de deixá-lo mais leve, sem o peso dos encargos “divinos” de julgar a humanidade. Nós, sociedade, poderiamos também excomungá-lo. Sim, temos esse poder, pois já foi o tempo em que o pensamento dogmatizado reinava absoluto nessa terra, muitas vezes, esquecida até por Deus.

Contudo, não vou agir tal e qual o senhor fez com a mãe da menina de 9 (nove) anos e com os médicos que cumpriram com a lei, nossa lei e, certemente que é a lei de Deus também, pois somos sua imagem e semelhança, em estado constante de evolução. Hoje, as igrejas começam a reconhecer a importância do trabalho de Darwin, também rejeitado pela sua Igreja. Não a minha. São muitas as moradas...

O pedófilo que abusava da tal menina, desde os 6 (seis) anos de idade, não foi criticado pelo senhor, tampouco expulso do seu “paraíso” torto.

Não vou agir como senhor porque sou um homem que, mesmo em casos extremos como o seu, respeita a diversidade, o direito à opiniões diversas. Porém, não me calo. Também me sinto legítimo representante de Deus para me pronunciar, livremente, graças, não ao senhor. Não vou condená-lo, não me compete isso, nem mesmo desejo ser juiz de nada. Sou um cidadão que transita pelo mundo e bem conhece dos caminhos e descaminhos da vida.

Quero apenas dizer que a vida daqueles que o senhor condenou em nada vai mudar. Continuarão a amparar e cuidar da saúde de seus filhos, toda a sociedade. Falo de uma Saúde maior, a saúde que compreende o direito de uma menina a permanecer menina, como é, e não seria mais, caso tivesse continuado a sua gravidez. Talvez que até morresse, não tinha um corpo desenvolvido o bastante para ser mãe, ainda não.

Espero, sinceramente, que, um dia, essa menina, quando mulher, se dê esse direito de ser amada e de dar à luz à um filho ou filha. Não tenho idéia do tamanho do trauma que um ato desses possar causar em um ser humano.

Pergunto-me como alguém poderá voltar a confiar nos homens quando o “pai” (que significa padre), que devia protegê-la e ama-la, era o seu torturador, capaz de destruir a vida da própria filha. Também me pergunto como acreditar em um padre (que significa pai), que se diz mais conhecedor e mais próximo do Pai-Padre maior e universal, que excomunga pessoas que salvam vidas, salvaguardando a infãncia de nossos filhos.

Outras igrejas, muitas delas interessadas apenas em usurpar seus fiéis, acolhem todo ser humano: assassinos, ladrões, prostitutas, etc. Será que elas, as outras igrejas, entendem que todos temos o direito de nos regenerarmos, de aprender com os nossos erros e optarmos por um novo caminho, mais correto e equilibrado?

Sou batizado, catolico-apostólico-romano. Se o senhor conhecesse meus pecados, certamente também me condenaria, a começar pelo pecado de falar o que quero, melhor, o que penso. Tenho filhas. Uma delas tem cinco anos e quero deixar muito claro que faria exatamente a mesma coisa com minha menina, caso um terror desses viesse acometê-la - providenciaria a interrupção da gravidez, por que não dizer, o aborto. Penso que, desse modo, já estou, previamente, excomungado. E digo mais, faria isso, mesmo que fosse contra todas as leis. Nesse caso, estaria condenado sob todas as instâncias.

Pouco me importa, minha filha importa muito mais. Esse é um pecado do qual eu nunca me arrependeria. Serei queimado nos infernos? Que se assim seja. Ou seja, seja o que Deus quiser. Mas o que Ele quer? Não sei responder a esta pergunta. O senhor tem certeza que sabe?

Enquanto não chega o dia do juizo final, façamos um pacto: vamos nos esforçar para fazer desse mundo um mundo melhor de se viver. Vamos oferecer o perdão antecipado, dado que somos todos falhos, e promover mais paz a esse lugar, concomitantemente, lindo e baldio. E, sendo assim, não o julgarei, cada cabeça é uma senteça, mas nem por isso devemos perder a cabeça e sair execrando as pessoas do alto de nossa estupidez, como se fossemos Deuses, sendo, em verdade, apenas humanos, demasiado humanos. Amém.
Aluísio Martins

6 comentários:

Anônimo disse...

o ato de Dom José só vem nos provar a mentalidade ignorante da Igreja Católica atual, que nos mostra que não é por nada, que vem perdendo fiéis para as igrejas cristãs protetantes, que se multiplicam à velocidade da luz nas cidades brasileiras.
acredito que esse artigo aluisio, deveria ser enviado pra arquidiocese de recife/olinda, caso não se importe de ser talvez excomungado também, por defender o aborto, ato que sou contra quando praticado por motivos banais... mas no caso da menina, totalmente aceitável e necessário...
caso queira seguir minha sugestão, segue o link para o site da arquidiocese. sim, eles tem um site e eu inclusive já enviei o meu protesto...

http://www.arquidioceseolindarecife.org.br

Chinezzinha disse...

Um texto exemplar, maninho!
Beijo

Mão Veada disse...

A Igreja Católica está coerente com aquilo que ela tem representado ao longo dos séculos: o obscurantismo. Não obstante o quanto suas decisões e "decretos" possam nos parecer absurdos, incongruentes e intempestivos. Talvez "Ela" a representação do verdadeiro mal ... muito bom o seu texto, Maninho. Deveria ser mais divulgado sim.

CA Ribeiro Neto disse...

Aluisio, meu amigo, postei minha crônica e depois vim ler a sua e agora tou é envergonhado de ser o sucessor de tão incrível crônica! hehehe

Mas quanto ao que escreveu. Passou no Jornal Nacional uma entrevista com esse senhor aí, em que ele diz que, os médicos podem até estar inoscentados nas leis humanas, mas não estão na lei de Deus. Pergunto-lhe então, a excomunhão não é também uma lei humana? Quem a impõe são homens, quem a criou foram homens, então, estamos falando de mais uma lei humana.

aluisio martinns disse...

Sheyla, mandei esse texto pro e-mail pessoal do bisbo. Em breve serei excomungado kkk
C. A, seu texto é melhor e fora do óbvio ululante. Vamos fazer poesia, cumpade, isso foi desabafo, apenas.
Anete, vc está certa, como sempre, chato isso. te admiro pacas.
Chinezinha, beijo pra lá de Lisboa, solte seus textos por aqui que são muito bons.

Anônimo disse...

aluisio, seremos nós dois excomungados então!
estou aqui aguardando um email resposta, espero que enviado pelo vaticano, pelo menos assim, fica mais chique pra gente ne?
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk