segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A CONDIÇÃO HUMANA - André Malraux

Pag. 280:
“Sou atirado para fora do tempo”; o filho era a submissão ao tempo, ao fluir das coisas; com certeza, no fundo, ...era esperança como era angústia, esperança de nada, espera, e fora preciso que o seu amor tivesse sido esmagado para que tal descobrisse. E, no entanto! Tudo quanto o destruía encontrava nele um acolhimento ávido. “há algo de belo em estar morto”, pensou. Sentia tremer nele o sofrimento que vem dos seres ou das coisas, mas o que vem do próprio homem e a que a vida se esforça por no arrancar; podia escapar-lhe, mas só deixando de pensar nele; e nele mergulhava cada vez mais, como se essa contemplação aterrada fosse a única voz que a morte pudesse ouvir, como se o sofrimento de ser homem, de que se impregnava até o fundo do coração, fosse a única oração que o corpo do filho morto pudesse ouvir.

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