quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Aos Libertinos



Voluptuosos de todas as idades e de todos os sexos é a vós apenas que ofereço esta obra: nutri-vos de seus princípios, eles beneficiam vossas paixões, e essas paixões, com as quais os frios e insípidos moralistas vos assustam, são apenas os meios que a natureza emprega para que o homem alcance as intenções que ela tem sobre ele; atentai apenas a essas paixões deliciosas; seu órgão é o único que vos deve conduzir à felicidade.

Mulheres lúbricas, que a voluptuosa Saint-Ange seja vosso modelo; desprezai, a exemplo dela, tudo o que contraria as leis divinas do prazer que a acorrentaram durante toda a vida.

Donzelas cerceadas durante um tempo demasiado longo nos laços absurdos e perigosos de uma virtude fantástica e de uma religião repugnante, imitai a ardente Eugénia; destruí, pisai, com a mesma rapidez que ela, em todos os preceitos ridículos inculcados por pais imbecis.

E vós, amáveis debochados, vós que, desde a juventude, não tendes outros freios senão vossos desejos nem outras leis senão vossos caprichos, que o cínico Dolmancé vos sirva de exemplo; ide tão longe quanto ele se, como ele, quereis percorrer todos as estradas floridas que a lubricidade vos prepara; convencei-vos, imitando-o, de que só alargando a esfera de seus gostos e suas fantasias, e, apenas sacrificando tudo à volúpia é que o infeliz indivíduo conhecido como homem e lançado a contragosto nesse triste universo, pode conseguir entremear de rosas os espinhos da vida.

[Marquês de Sade], in “A Filosofia na Alcova”

2 comentários:

Chinezzinha disse...

Maninho,
Desculpa a minha pouca participação mas faz-me confusão ter de mudar de e-mail para vir aqui.
Jinhos

Petro disse...

Como chegada a hora, lutei para que ela chegasse! Quão duros obstáculos derrubei, tanto sangue jorrado destarte, para colher o que não plantei. Seguro riste a pena que, poeteira, insiste! Qual oriundo final mo revelaste, perante o ódio que suplantei; eu fugidio finquei finale pesares, esses volúveis montantes atenuei. Livrar-me perante o artíficie da lápide que sobre meu passado levantei. Duras penas foram cálidas em penar-me os braços qual um azul cintilante pássaro apregoado ao seu destino; cocorado e abstêmio vivi minha mentira qual menino, e, a tarde da vida gane sobrepondo-se em medo, eu, exangue revivo um pesadelo: ser artista simplesmente, o maior sêlo que vejo e trago aqui minha mundana dança, dança esta desmantêlo.

Petro.