quarta-feira, 15 de julho de 2009

Trincheira




Porque será que nunca olho para os seus pés?
Atenho-me à estatura e às roupas largas.
Limito-me à linha do rosto- Reflito.
Porque será que falo tão apaixonadamente da sua pele,
se ela é marcada por esse vinco/cinza/doentio,
prova irrefutável de um cansaço secular?
Limito-me à linha do tempo - Reluto.
Talvez porque o seu sorriso dismistifique a cultura das aparências,
transcendendo-a.
Você é algo assim como Cheshire - um enigma.
Meu enigma.
Então, seu olhar afiado pressiona-me contra o balcão:
Me escoro nos copos, escudos de vidro fosco,
cheios de veneno negro.
Além dessas paredes, o cheiro úmido da noite.
O cheiro da terra.
Desejo ...
meu desejo ...
Retorno ao front.
Invariavelmente entrincheirada para a guerra dos olhares que dizem coisas ... Mortais.
Vez por outra ferida por toques de pele nada aleatórios, mísseis de palavras soltas que reverberam, assobios, trechos de canções arremessados, borbardeios de cadeiras arrastadas, bombas quimicas de testosterona ... um inferno.
Meu paraíso.
Cheshire reaparece quando ameaço retirar as tropas de campo.
No último instante -"Fica".
Fico.

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