sexta-feira, 22 de agosto de 2008



É agosto. Tempo sem cura nem alívio. Estamos à gosto de delírio.
Eu me cobriria de silêncio se ousasse apenas um único questionamento: o que ainda não foi dito?
É por estupida surdez que ainda me insisto.
É por estoica mudez que ainda me grito.
Não conto até dez e cego e inconscientemente me repito.
Acontece que o ser humano – e talvez todo ser animado – só consiga o entendimento, a liberdade, quando se apropria dos verbos e quando expropria o pensamento. Pensamento é conjunto e portanto sempre coletivo. Para que se exista, há que se conjugar.
Desta maneira que palavras precisam e devem ser engolidas, digeridas e expurgadas depois adubando vidas, ainda que quando expelidas nunca mais serão as mesmas.
Claro que precisam ser expelidas. É aí que se adubam as existencias. Caso contrário, empedram. Engolir palavras na ponta da língua mumifca a vida. Causa alteração drástica de humores com rumores de desistência. Causam tumores a revelia dos maniqueísmos. Não importa a malignidade como coisa e fato. O fato é que essa carcomência apodrece o existir. A boca encerra, cheia de dentes fissurados, se trincando por não terem o que morder. A língua morre a míngua de excesso de escuros.
A dúvida quando nos cala à força do medo pode ser medusa terrível. Porém, nem meia duzia de versos e prosas já é sublimação consistente.
Toda essa fisiologia não é simples como parece. Os três movimentos se desentendem com frequência. Disputam nas interdependências suas inteiras independências. Estão atados mas não por gosto. Prova é que expelimos muitas vêzes vazios. Gases inócuos que advêm do oco das sensações. Noutras mal provamos do recém-dito e, como fosse pimenta braba engolida a seco, cuspimos iras, incinerando toda a chance de entendimento. Após certo tempo é que, sanada a queimadura, realizamos a maturidade sem desditos. Ou seja, memorizamos os sabores que serão utencílios fundamentais e jamais serão esquecidos.
Nessa matéria, tudo que existe se consiste de peso e medidas extremas.
Note-se o elefante maduro que com suas toneladas quânticas, paradoxalmente, dá preferência as folhas e aos frutos. Quer dizer, sabe da necessidade do equilibrio no diálogo das diferenças.
Antes do meio termo, o homem andará em meio as incertezas. Terá que provar de tudo.
(aluisiomartins)

2 comentários:

Unknown disse...

Viva as diferenças ,suas causas e seus efeitos.

Bjs Feio.

Texto Bel como sempre

Anônimo disse...

Sou pintura, abstrata apenas jogada na tela de uma vida em branco, nas pinceladas nervosas de uma vida em posta, com cores vivas e na iluminosidade da escuridão, sou retratado por marcas diversas, sem sentido, com curvas e riscos que formam cicatrizes... Sou apenas uma pintura