domingo, 12 de abril de 2009

Objetos humanos (ou a batalha dos sexos)

Nascemos numa sociedade hipócrita e machista. Nenhuma novidade! Somos criadas como princesinhas dentro de nossos babadinhos e quando crescemos percebemos que o babado é outro!
Homens entenderam que a revolução sexual nos colocou em pé de igualdade. Mentira! Primeiro que, com igualdade não existe tesão e como já disse Roberto Freire, sem tesão não há solução e segundo, somos vistas mais do que nunca como peito e bunda e esse olhar que nos é diariamente lançado, nos faz sentir como se fossemos nada além do que mais um pedaço de carne que se leva pra cama e que no dia seguinte (se acaso durar até o dia seguinte), paga o táxi depois de tomar um café, se por acaso nos for oferecido.
Mas queremos sim a gentileza e a delicadeza, pra poder sentir tesão de querer ser a sobremesa após um jantar que preparamos cheias de planos, ou que compramos no supermercado.
Entendam...
Há dias que estamos chorosas, dias que somos guerreiras, dias que vestimos a fantasia de puta e dias que fazemos cara de santa, dias que dormimos de espartilho e outras agarradas com um ursinho. E na maioria dos dias somos muitas, somos todas essas mulheres que nos habitam juntas!
E somos sim, o sexo frágil que tem que ir a luta e criar artimanhas pra sobreviver a tanta insensibilidade, que parte da maioria dos homens que se aproximam e nos cercam.
E vivemos a guerra dos sexos! Homens dizem que as mulheres agem de forma a não se valorizar, o que não discordo totalmente, mulheres rebatem dizendo que agem dessa maneira como forma de defesa, pra não se aprofundarem e que essa forma de agir nos foi imposta. Ambos se lamentam e se perdem no meio de tantas justificativas.
Me pergunto agora, como ficam a as mulheres (e homens) que ainda procuram viver um amor romântico, perdidos no meio de tanta busca e tantos desencontros?
Cansados. Exaustos e feito cegos no meio desse tiroteio de olhares banais e com um vazio a lhes preencher de nada, o nada que carregam em si.
Vivemos um tempo de promiscuidade e desvalorização do ser humano. Valemos pelo que temos ou pelo que aparentamos ter e ser.
Encontros se fazem na cama e os desencantos logo após quando se vestem as roupas. Conteúdo é bobagem. Intimidade é fator secundário. Descobrir o outro é irrelevante. Frustração é fato.
A busca é superficial, vale tudo pelo prazer imediato e quando consumado esse prazer, ambos seguem seus caminhos, com o mesmo vazio que tinham no instante que se encontraram. E fingindo não se importar, que daquele encontro nada restará.
Talvez, nunca mais se encontrem e se por acaso isso acontecer, é muito provavel que não se reconheçam, ou finjam que não.
Telefones são anotados às pressas, apenas como regra e um dia provalvelmente serão apagados da memória do celular, após terem sidos há tempos apagados da memória de quem anotou.
E seguimos, com a alma calada e marcada.
Não com a sensação de que falta homens de valor no mercado. Apenas uma sensação estranha de que homens e mulheres se buscam e se completam, mas ambos estão fazendo tudo errado...

(sheyladecastilho°

5 comentários:

Mão Veada disse...

vejo-me muito nisso, na perplexidade, na frustração, na sensação de objeto. mas já estive do outro lado tb, no olhar vazio, ns gestos automáticos, na falta de cuidado, com a alma amortecida e a boca calada. salva-nos a poesia e a vontade imensa de transceder, fazendo da vida uma poesia contínua. vc é linda!

"O verão partiu
E nunca devia ter vindo.
Será quente o sol
Mas não pode ser só isto.

Tudo veio para partir,
Nas minhas mãos tudo caiu,
Corola de cinco pétalas,
Mas não pode ser só isto.

Nenhum mal se perdeu,
Nenhum bem foi em vão,
À luz clara tudo arde
Mas não pode ser só isto.

Agarra-me a vida
Sob a sua asa intacto,
Sempre a sorte do meu lado,
Mas não pode ser só isto.

Nem uma folha se consumiu
Nem uma vara quebrada ...
Vidro límpido é o dia,
Mas não pode ser só isso."

Arseni Tarkovski (pai do Andrei)

aluisio martinns disse...

"As mulheres asnas são a perdição dos homens superiores. E os cenobitas secretamente pedem que o diabo não se cubra de tão terrível aparência na hora mortífera das tentações" Julio Torri

Você é mulher mulher, Sheyla e nos tenta muito mais e além que tantas que abundam por aí.

Continue assim, poeta e linda.

Necka Ayala = NA disse...

Mulheres talvez se percam por buscarem nos homens aquilo que a sua natureza máscula e finita, não tem. E homens talvez se percam por buscarem nas mulheres, menos do que sua essência feminina e infinita contém. Se nada buscarmos, apenas formos porque ir é o bastante, talvez cada mínimo sirva, cada algo a mais surpreenda e alguma breve felicidade baste. Não sei. Só sou grata por ser mulher e isso ser muito. E mais grata ainda por buscar o que me apaixona, onde tem. Beijo!

Lia disse...

O mundo virou descartável, Sheila...Ou acreditamos que haverá uma revolução conceitual qualquer ou evolução de consciência como pregam por aí ou...sei não, amiga...
Tamos sim, fazendo tudo errado.
Adorei o texto.
Beijo

Ps: Li seu texto no blog In da Necka mas tive que vir aqui dizer a mesma coisa...

Paula Izabela disse...

Fico feliz ao perceber que este tema está sendo discutido de forma madura em algum lugar. Semana passada estava conversando sobre isso com um grupo de amigos solteiros e muitas foram as divergências de opiniões. Parabéns pela sensibilidade e transparência do texto!