quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O Segurança

Tarefas árduas têm certas pessoas. Dia desses conheci algumas meninas de boa vida que só saíam de casa na presença de seu segurança. Eram do tipo pequeno burguesas - haveria a qualquer um adivinhar; no entanto, demorei um pouco para concluir que o rapaz ao seu lado (na ocasiäo estava a menina como sozinha apenas acompanhada desse aí) ser ou ser parecido como seu namorado; vestia-se de roupas da moda e em nada era diferente de um conjuge qualquer. Demorei para notar a mocinha quase nada falar, tipo dominada pelo medo. Aí, entäo fazia seu papel o homem da segurança, de tarefa incubida de protegê-la e näo permitir afronta nenhuma de quem quer que fôsse. Isso só notei quando tentava com ela algum contato visual à fim de intimar-me mais à garota que como à tantas da sua pouca idade, guardava um charme bonito e feiçöes de princesa de conto de fada. Foi quando enquanto falava apercebí-me de aquele moço do lado dela näo ser um namorado, mas alguém que estava ali para impedir dela ferir-se física e moralmente.
No entanto, como o fraco pela carne é grande, näo deixei de investir na menina e, mesmo recebendo cortadas fenomenais do segurança - às ameaças o tempo todo, por olhar ou expressäo corporal de sua massa muscular avantajada - voltava à conversa sempre com o intuito de conquistar a garota sem achar que aquilo fôsse dar em alguma cousa errada, e com uma cara de pau sempre minha costumeira, em tratando-se de conquistas, fui todo sorrisos e fala ferina; fui todo atrevimento e ouvidos; fui eu mesmo, Don Juan.
Ao perceber o rapaz fortitudo cada vez mais distante, empolguei-me e pulei para a cadeira ao lado da novinha e cheio de lábia, impus minha condiçäo de conquistador.
- Bom, sabia que te achei uma gracinha?
Suplantei da coragem a pergunta.
Até entäo tudo corria bem. Ela respondia favoravelmente à minha cantada, o que fazia-me mais arredio ainda, à ponto de experimentar à passagem carnal e tocar-lhe o rosto com minha mäo enternecida sobre a pele lisa como a de um bebê. A garotinha inclinou o rosto e sem muita defesa, permitiu o afago, isso me deu mais coragem ainda e fui aproximando o meu rosto dela. Os olhos entreolharam-se e quase ao selar dos lábios, veio-me a lembrança do outro que até agora näo manifestara-se de modo a impedir meu avanço e quase a beijando meus glóbulos oculares fatalmente encontraram-se com os dele. A situaçäo, como por mágica inverteu-se. Percebi que aqueles dois globos de contorno branco e íris castanhas mandavam-me um aviso prévio de que se eu continuasse, algo de muito ruim iria acontecer comigo; mais particularmente temi perder meus dentes da frente. Li isso na cara do segurança e meus olhos fitaram novamente a garota com os seus por sua vez fechados e a linda boquinha de torcida por um beijo sem precedentes, foi afastando-se da minha, que volvia lentamente ao notar o risco que seria ir até o fim.
Quando ela abriu os olhos, e viu que minha cara de tacho já ia longe recuada, e, depois ao olhar para o redor, viu tanta gente assistindo à cena, desprendeu-se ela mesma do pudor e beijou-se fortemente. Caindo nas graças da paixäo, compartilhamos o sentimento do primeiro beijo sob os olhares de todos que ali estavam, foi cousa bela de se ver. De outra vez que nos vimos, a moçoila apareceu sozinha, e eu näo pude deixar de perguntar pelo segurança, ao que disse ela tê-lo esquecido em casa. Fiquei agradecido de näo ter tido razáo para temer levar um soco dessa vez e fomos ficando e, à cada encontro, cada tanto mais íntimos; tanto foi que acabamos namorando. Saíamos de canto à canto da cidade para comer e beber e também íamos ao cinema e até uma vez assistimos a uma peça de teatro. Com o passar do tempo fui conhecendo sua família e seus amigos, tornamo-nos inseparáveis, com uma fortuna única para nós dois: o amor que sentíamos um pelo outro. Selávamos nossos encontros à noite com um sexo gostoso de fazer. O que ocorreu foi diminuindo até tornar-se a saída de casal em mero "cumprimento de tabela", como dizem no futebol quando o jogo já nada vale ao campeonato; passamos pela fase das discussöes ininterruptas e o namoro foi lentamente esfriando. Até que certa vez, quando saímos para comer fora, sentamos numa mesa e temos a surpresa de receber um camarada a apresentar-se um antigo colega de sala dela. Assutou-me minha posiçäo perante a conversa que os dois levavam. Parecia eu estar apenas em um aparte do todo; eles davam-se bem e, para defender minha mulher, e como também näo tinha muito para falar no momento, apenas deixava parecer ao estranho com comunicaçäo corporal mesmo (havia malhado uns dias de namoro à pedido dela) usando dos músculos para intimidar e, vez ou outra falando algo incompreensível.
Ao fim da conversa, o camarada resolveu que queria falar comigo e perguntou-me quem eu era, que estava curioso e tudo o mais. Troquei duas palavras com êle, e foi o suficiente para que fôsse criando coragem e aproximando-se de minha namorada. Assisti àquilo calado e até quanto pude me aguentei, mas quando partiu para beijá-la, fiz questäo de mostrá-lo que estava ali e ameaçei-o com os olhos, no que ele recuou. Mas já era tarde. Ela o beijou, eles apaixonaram-se dali pra frente só andariam juntos e namorariam; sairiam ao cinema e ao teatro e todas as noites fariam um sexo gostoso...

Petro

10/01/2010

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